Construção

O presente trabalho visa ilustrar a história de Tanabi.
Autor: Terso Marcel Mazza

Ofícios de Tanabi

Ofícios de Tanabi      

Tanabi é uma cidade composta de gente trabalhadora. Vamos neste trabalho, tentar de uma forma simples, enumerar muitos dos ofícios desenvolvidos no século passado. Muitos deles, ainda sobrevivem em nosso dia-dia; disputam em meio a modernidade e a tecnologia.
      Quem viveu estes momentos, certamente irá recordar um passado não muito distante, um passado de glórias e lutas, de gente trabalhadora. 
       Todas as pesquisas e entrevistas foram feitas por nós (Terso Marcel Mazza) onde pudemos verificar a importância desses ofícios para o crescimento do município. Se alguém puder me sugerir algo que possa engrandecer o presente trabalho, agradecerei imensamente. Todos os artigos foram publicados no jornal "O Município" de Tanabi.

Nossas Lavadeiras


            Cadê elas? Onde andam?
Na passagem do século vinte para o vinte e um, parece marcar uma ruptura em nossa história. Mulheres do dia-dia de nossa comuna cidade que habitualmente não vemos mais. Seria coisa do passado? Tanabi era cheio delas! Despertavam logo pela matina e saiam em busca de suas trouxas, malas ou pacotes de roupas que vinham em entrelaço num lençol de algodão, geralmente branco. Moravam nos arredores e, em casebres simples, decorado por enormes varais coloridos de roupas, feitos bandeirinhas de São João quando sacudidos pelo vento.
            Pessoas simples e de pouco vocabulário. Educação extrema. Professoras em tempos de classes isoladas, ás aguardavam antes da partida, para entregar-lhes a trouxa. Pronto! Lá, vinham elas equilibrando as trouxas na cabeça rua abaixo.
            Sabão feito em casa, pedra de anil, lata, tacho, vasca, escova, tina, batedor (prancha de madeira) confeccionada pelo saudoso Bidú, eram os instrumentos de trabalho. Tudo sem pompas e circunstâncias. Nada além do necessário.
            Cisterna longa (setenta palmos), onde os filhos ainda pequenos eram expressamente proibidos de chegarem perto, sob a ameaça de uma “varada” nas pernas. Todo cuidado era pouco. Sarilho engraxado com sabão, corda longa e uma lata de zinco com um peso ao lado, mergulhavam buraco a fundo, dentro da cisterna em busca de algo precioso, a água.
            Em punho fechado, toda a mala era lavada, fervida, passada em anil e engomada. Ficava pronta para receber o ferro a brasa. Á pancada de roupas no batedouro, ao longe ecoando, ecoando... Lençol de algodão em cor branca era estendido nas moitas de ervas-cidreiras e gramas para receber o sereno da madrugada. Em tempos das grandes boiadas a correria era uma só. Acudam! Acudam! Peguem as roupas! Motivo: poeira no varal, pozinho fino e vermelho punham em xeque o serviço prestado no batedouro. Boiada passada, tudo voltava ao lugar.
             Roupa com cheiro de barrela e roupa branca lavada, estendida sobre o arame farpado a corar ao sol era o troféu conquistado num dia inteiro de serviço. Tudo seco. Ferro de passar transbordando de brasa esperava para dar o inicio... A cada passada, um movimento feito ao do turíbulo tinha que ser feito, senão, as brasas ofuscavam.  Tudo pronto. Roupa lavada, engomada e passada. Mala na cabeça, ia-se de domicilio a domicilio...
            Os tempos foram mudando, surgiram os sabões em barras, de marcas: “ Oreca” “Ypê”; em pó: “Presto” e “Omo”; produtos químicos, ferros elétricos de marca Philipps e depois LG de baquelite. Modernos tanques de cimento na cor vermelha e verde. Hoje, modernas máquinas...           
Lídia Martem Vertuci
Vamos homenagear juntamente com este semanário todas essas mulheres lavadeiras na pessoa da Sra. Lídia Martam Vertuci que tem 88 anos de idade, dos quais mais de sessenta anos foram vividos ao lado de um batedouro de roupas.
            Dona Lídia, mudou-se com seu esposo Angelo Vertuci para Tanabi aos vinte anos de idade, vinda da cidade de Santa Adélia-SP. Nasceu no dia três de setembro de 1924. É descendente de italianos. Teve os filhos: Cleuza, Antônio e Divino. Aqui, iniciou seu ofício no Hotel “Líder” de propriedade da Sra. Claudina e Joaquim Estevam de Oliveira (pais da Sra. Maria Constâncio).  Lá, lavou roupas debaixo de uma mangueira por muitos anos. Chegou a lavar roupas para 16 residências ao mesmo tempo. Os tempos passaram e a idade juntamente com a sua coluna vertebral lhe obrigaram a deixar a lida. Infelizmente não conseguiu aposentar-se devido atos burocráticos dos tempos. É uma senhora feliz e sábia; lúcida e positiva. Sua vida, podemos afirmar categoricamente, foi uma vida pautada na honestidade, lisura, uma mulher que serve de exemplo a ser seguido sem medo de errar. Cremos que seu lema foi somente o trabalho, labuta e muita fé. É católica. Atualmente reside na Rua Francisco José Vargas, 31, centro de Tanabi.
            Nossas homenagens às senhoras: Divina, Flôra, Joaninha Antunes, Lídia Martam Vertudi, Corina Rocha da Silva, Josefina, Euvira Canela, Maria, Virtudes, Corina Larine, Aparecida, Emídia, Isabel, Santa Piveta, Ana Canizares, Páscoa, Maria Avenila de Jesus, Lázara, Júlia, Albina, Adelaide, Gertrudes, Brazelina Guarieiro, Joana Maria Prata, Olinda Barravieira, Maria Teodora Pacheco...
            Vocês foram rainhas do bom asseio para o bem das roupas que tomaram e zelaram. Até a literatura ocupou-se das lavadeiras: Júlio Diniz em “Pupilas do Sr. Reitor”, João de Deus em “Boas Noites” e Cora Coralina em “lavadeiras”.
            Fica aqui as nossas homenagens, Deus lhes abençoe.


                                                                                                            Outubro de 2012  
                                                                                                         Terso Marcel Mazza.


Nossos Alfaiates

E eles? Por onde andam?
            Será a globalização impondo mudanças no tempo? Talvez, um olhar contemporâneo ou hodierno.
            Muito comum no século passado, Tanabi era muito bem representado por essa categoria. Um luxo. Impecáveis. Tudo começa numa medida: 1,20 pra cá, 0,89 pra lá; - com licença, erga o braço, pronto! Fita métrica de pano, trincada pelo tempo e pendurada no pescoço.
            Em décadas passadas, era comum ver os “nossos” ateliês; geralmente modestos, tendo como endereço, a residência do alfaiate. Porta de madeira com bandeira (peça que ficava em cima da porta e tinha vidros), janela com tramela; em tempos modernos, pendente de louça com perinha (interruptor) na ponta.
            La dentro, a máquina a pedal e correia de couro era a peça principal. Geralmente, embaixo da janela para aproveitar a luz do dia. Sofisticação eram as máquinas: “Faf”, “Singer”, “Vigorelli”, “Elgim”, “Nechi”... A marca era de acordo com a posse do alfaiate. Às vezes, uma maquina manual ficava a postos, para socorrer quando quebrava a correia da pedaleira. Isso! Somente para alguns.
            Pedestais em madeira torneada era a coluna sustentável para garantir uma boa medida e a devida marcação com os alfinetes. Tesoura muito bem amolada, tecido passado na água e seco na sombra, o corte era feito sob medida aonde não havia o uso padronizado de numeração preexistente. Ali estava à elegância artesanal, a essência sob medida. Cada cliente com a sua medida.
            Casimira de marca “Aurora” e linho cento e vinte era sonho de qualquer moço da sociedade.
Após a composição do trio: calça, paletó e colete, o arremate vinha por conta de um bom e pesado ferro. Em tempos de outrora, ferro a gás e ferro a brasa. A cada costura, uma passada de ferro para garantir as dobras.
           
Jesus Francisco do Nascimento
(Pé de Chumbo) in memorian
E o “Chumbo”? Como vai? Vai bem sim senhor. 
Jesus Francisco do Nascimento, conhecido popularmente como “Chumbo”, filho da saudosa Ana Maria de Jesus, a pipoqueira “Bilica” e neto da senhora Maria Paulista, parteira de Tanabi, nasceu em Tanabi no dia 23 de novembro de 1925. Vai completar 87 anos, dentre os quais, costurou por quase cinquenta anos. Católico e descendente de brasileiros.
            Contraiu união estável com a Sra. Deonilde Domingues e tiveram um quarteto de filhas: Jussara, Jucélia, Jucimara e Josana.
            Iniciou o oficio de alfaiate aos doze anos de idade após concluir o quarto ano de grupo. Seu mestre foi o alfaiate oficial Tessalônico Barbosa. Iniciou pregando botões e posteriormente no corte e na costura.
            O bom e velho “Chumbo” foi um alfaiate de boa visão, habilidade manual e, possuía um senso estético fantástico. Soube coser como ninguém. Linhas “Drima” e “Corrente” foi suas companheiras inseparáveis.
            O nosso “Chumbo” foi um cidadão que muito contribuiu para o crescimento de Tanabi e faz parte da nossa história. Brilhante jogador de Ping-Pong e tradicionalista no gramado, foi um grande futebolístico do Tanabi Esporte Clube e campeão em Fernandópolis no ano de 1950, quando pertencia aquele time.
            Como garçom, soube equilibrar muito bem a bandeja e a simpatia. Tratava a todos com carinho e muito respeito. Pra lá e pra cá. Lá vinha ele de bandeja em punho sem sequer balançar o drink. Bom pescador, pescou e repescou até debaixo d’água. Como diversão, dançou as grandes valsas de tempos outrora, passou pelo baião, xaxado, bailado, maxixe... Exímio dançarino. Era cobiçado a todo instante em tempos de saudosos bailes. Atualmente reside na Rua Nove de Julho, nº 4, centro de Tanabi. Deixo uma sugestão aos edis do poder legislativo para a entrega de título ou um mérito qualquer.
            Na pessoa de Jesus Francisco do Nascimento saudemos nossos alfaiates: Otílio, João Ferraz, Olavo Ribeiro, Nelson Alarcon, Paulo Leonardo de Oliveira, José Canizares, Miguel Víctolo, Jovino de Oliveira, Esmeraldo de Brito, Carlos Posobom, Vitalino Monteiro, Antônio Petronilo Neves, Ernesto Bília (Alfaiataria “Ideal”, déc. de 30), Tessalônico Barbosa (“Alfaiataria Tessa”, com filiais nas cidades de Votuporanga, Fernandópolis, S.J do Rio Preto e Monte Aprazível), Antônio Scrochio (Alfaiataria “Ao Elegante”), Milton Scrochio (Alfaiataria “A Insinuante”), Hipólito Pereira dos Santos (Alfaiataria “Hipólito”, déc. de 50), Armando Destrutti (Alfaiataria Moderna), Sílvio Bertoz, Joaquim Vasconcelos, Doroteu, Antônio, Pedro Cambuhi, José Pondiam, Toninho dos Santos Ribeiro, Sebastião Policarpo...
            Vocês foram artistas. Bons e velhos alfaiates. Dominaram num todo o ajuste, o alargue, o alinhave, “casaram as casas com seus botões”. Nos moldes em papel simples, souberam expressar a magnitude e dar vida a arte.       
           
                                                                                       Terso Marcel Mazza
                                                                                                31/10/12

Crochês, bordados, tricô, ponto cruz, vagonite...

                   Este assunto é assunto para a ‘vó’. Nossas ‘vós’.
            Geralmente, uma cadeira almofadada em horizonte com a televisão, denuncia o oficio praticado numa casa, ao lado, uma lata antiga de bolacha qualquer transborda de linhas e agulhas. Agulhas largas, pequenas, compridas, curtas, de número 1, 2, 3... Bastidor em madeira, linhas “Cléia”, “Drima”, de tudo quanto é cor e jeito.
            Em época de romantismo, a bela e noviça donzela dedicava seu tempo na feitura do seu enxoval. À prática e o aprendizado vinha de mamãe e a correção ficava por conta da vovó ou vizinha mais experiente que de longe, avistava a falta ou o pulo de determinado ponto.
            Mulheres a espera do primogênito, prestes a ser ama de leite, invernavam na confecção do enxoval. O feitio era por tempo determinado. Nove meses e nem um dia mais. Pedido de casamento feito e pedido aceito, a pressa se dobrava para tudo ser terminado a contento e a tempo. Jogo de lençol branco em algodão com as iniciais do casal era o requinte. Fronhas também.
            Surge á revista “Agulhas de Ouro” e o requinte se aprimora ainda mais. Novidades da capital passam a circular na cidadezinha do sertão. Eis que em tempo de festa surgia senhorita de vestido de linha onde era observada pelo bom gosto e admiração pelo feitio. Hum! – Caiu muito bem na cintura.
            Tricô em tempo de frio cai muito bem, haja vista que a lã aquece. Pedrarias da o tom e o brilho em vestido qualquer; verde, azul, prata... Realce. Vagonite, fuxico, ponto-cruz... Cada mulher na sua especialidade.
            Em tempo de escola antiga, que diga a professora Encarnação Arenas que em suas aulas de arte, aplicava e ensinava o tal feitio. Dúvidas? Era só chegar em casa e procurar a vovó.           
Maria Ângela Hernandes
E a senhora Maria Ângela Hernandes? Alguém conhece? Ei de apresentá-la. 
Católica, apostólica e romana tradicionalista, é mãe de gente boníssima: José, Cristóvão, Miguel, Vicença e Bernadina.
            Nasceu no dia 04 de janeiro do ano de 1919, e está prestes a completar 94 anos de idade. Filha de legítimos espanhóis, o seu típico sotaque á denuncia. Suas mãos almofadadas trabalham incansavelmente até os dias de hoje. Faz mais de 80 anos que a Sra. Maria está no oficio. A prática é tão aplicada que sua atenção é eficaz. Ultimamente, anda feliz da vida, recentemente foi removida a sua catarata que a impedia de tecer alguns tipos de nós e transpasse com a agulha.
            Com sua agulha, vive fazendo tramas com a linha. Num vai e vem contínuo a agulha passa e transpassa caminhos, solta e se alinha. Tece um enredo.
            Essa é a dona Maria. Ela reside na Rua José Serafim da Silva, 1097, centro de Tanabi. Na pessoa dela, saudemos: Carmela Borin, Eloisa Cucolichio, Lairde Mazza, Elen Hernandes, Ilda Andreazzi, Rosalina Mazzei Cuoghi, Fátima Malone, Cleonice, Olinda Buzelo, Maria Romão, Luiza Meneghetti, Laura Fernandes Mazza, Lídia Caprio, “Néna” Caprio, Marlene Caprio, Marcia Laranjeira, “Tuti” Colombo, Dalva Sgargeta, Ana D’alva Scrochio, Idalina, Eli Orueta, Militana Paranhos, Enrilaura  Mazza Benini, Brasilina Galvani, Iolanda Mendes, Ana Alves...
            Vocês deixaram e deixam o vosso contributo para nossa história. O lavor foi e continua sendo para algumas, a sensação de prazer e expressão pela arte.
            Nossos cumprimentos e nossa admiração. Fiquem com Deus.
           

                                                                                                          Terso Marcel Mazza
                                                                                              Tanabi, 07 de novembro de 2012. 
Nossos Relojoeiros


             Que diga o nosso bom e escritor Dr. João Soler Haro em um de seus contos: “Na casa da fazenda havia um relógio...”. Cremos que a saudade bate no peito, né! Dr. João.
            Muito comum no século passado, às famílias tinham um grande e imponente relógio de parede em suas salas. As marcas eram diversas: Junghans, Reguladora ou outra qualquer. “Bim-Bam”; “Tom-Tom” era o anúncio de meia em meia hora, ou, de quinze em quinze minutos. Geralmente, a corda era fornecida pelo chefe da casa. Ai daquele que mexesse no relógio.
            Em outras residências, às vezes avistava-se um relógio modelo clássico ou estilo barroco em cima do móvel da sala. E, era já, que as batidas anunciavam as horas. Horas do que? Talvez um chazinho em xícara de porcelana, acompanhado com palitos franceses vindos da padaria do “Ernéstinho” Lorenção.
            Que diga o suíço na sua precisão e o inglês na sua pontualidade. Até a torre da nossa  matriz nos conduz com suas badaladas onde de longe, os ventos trazem o som de seus bordões.
            E os nossos avôs com seus relógios de bolso: “Roskopf Patent”, “Mirvaine” “Omega”, “Tissô”, “Mondaine”. Antes de dormir, a corda era dada para garantir a hora do dia seguinte. Cuidado e zelo era primordial. Relógios viviam lustrados pelo bolsinho ao lado da calça. Bolso que nossos alfaiates sabiam fazer respeitando o tamanho do relógio que o dono possuía.
            Algumas senhoritas possuíam relógios de ouro ou banhado pelo precioso metal. Muitos deles envolvidos por uma capa em que a tampa era uma rosa em metal precioso e um rubi no centro. Cada qual com seu poderio econômico ou pelo tamanho da fazenda em que o pai possuía.
            Hoje vamos falar de um “sobrevivente” dos tempos modernos.
           
José Cavalin Olier
Ele se chama José Cavalin Olier. Pessoa incrível. É de pouca conversa e muito sábio no seu ofício. É solteiro e filho de legítimos espanhóis; sua religião é católica. Começou no ramo aos vinte anos de idade. Nasceu no dia 10/11/1947. Ha poucos dias completou os seus 65 anos de idade. Tem mais de quarenta anos como relojoeiro. Seu mestre foi o relojoeiro José Dias Fernandes. Sr. José Olier lamenta a perda do seu irmão João Cavalin Olier, também relojoeiro, com quem trabalhou a vida toda. Mas reconhece as circunstâncias de nossa vida.
            Homem simples e honesto no que faz, possui um conhecimento profundo da maquinaria de um relógio. Suas mãos possuem uma precisão no desmonte de um relógio; é perfeito. É capaz de dar “vida” a uma máquina minúscula. No barriler, platina, roda de escape, âncora, roda de segundo e roda de centro, ele é pioneiro. Conhece como ninguém todos os mecanismos de um relógio.
            Como bom relojoeiro que é, possui minúcia, paciência e disciplina. Essas são suas virtudes apesar de serem raras em tempos modernos. Sua modesta relojoaria fica na Rua Benedito Sampaio, nº 41, centro de Tanabi.
            Na pessoa do senhor José Cavalin, saudemos: José de Carvalho -“Officina Moderna” Rua João Pessoa (atual Cel. Joaquim da Cunha), 327, centro de Tanaby – Déc. de 30; José Dias Fernandes - Relojoaria “Reunidas” e “A Pérola”, Rua Cel. Militão, números 537 e 617, Déc. de 50. Posteriormente relojoaria “Fernandes” de Julieta Cezar Fernandes; Sr. Américo, Sr. “Chinê”, “Renê”, Izaltino Gonçalves; Sergio Gonçalves, Miguel Rodrigues ou Seu “Migué relojeiro”- Relojoaria “Rodrigues” e Duvan (Relojoaria “Zacarelli”).
            Vocês deram e dão vida aos nossos tradicionais relógios mecânicos: de bolso, parede, mesa, pulso. Mantêm a arte do restauro, fazem peças e adaptações. Lutam contra as inovações tecnológicas, a introdução no mercado de produtos de baixo preço e altamente descartáveis, além de mudanças de hábito de consumo.
            Deus lhes abençoem sempre.  Dim-Dom!

                                                                                                            Terso Marcel Mazza
                                                                                                Tanabi, 14 de novembro de 2012


 Nossos Barbeiros

                 Que diga o italiano Gioachino Rossini em sua obra: “Barbeiro de Sevilha”, “Figaro cá!, Figaro lá! Rs.
                Sábados matutinos em tempos de outrora, sitiantes e fazendeiros vinham para a cidade fazer o aparato de costume e de sempre: barba, cabelo e bigode. Cada qual com o seu barbeiro ‘de confiança’. Salão ou barbearia era local para contar a sacas colhidas, gado leiteiro, marmélo, leitões; bate-papo generalizado. Local de discutir sobre boccia, “pelada” e seus times de preferência. Que diga o dono do salão. Sabia de tudo um pouco. Verdadeiro local de descontração nas manhãs de sábado onde a clientela era maior.
            Tempos de bigode alto, cavanhaque, barba e costeleta; cabelos de acordo com a época ou moda. O arremate era por conta deles, os nossos barbeiros.
            Cadeiras em ferro forjado de marcas: “Atlante”, “Ferrante” e “Brasil”; onde na sua lateral costumava ficar o couro assentador (peça para amolar a navalha) feito em couro e tecido. Sua cara-metade, a navalha de marcas “Herbertz”, “Corneta”, “Solingen”. Num vai e vem no couro, o corte ficava preciso. Um perigo na mão de amadores. O barbear era clássico e havia sua pompa e sua formalidade: toalhas aquecidas, pincel com pelos de marta (animal) davam o requinte. No canto do salão, uma tábua pequena para atender jovens mancebos que geralmente não alcançavam na cadeira. Iniciado o corte, a cochilada algumas vezes, era fatal. A promessa já vinha garantida de casa: “se ficar quietinho, vai ter ou ganhar...”
            Balcão modesto. Nele, duas tesouras, ebulidor de louça, loção mentol, pedra humes, alcool... instrumentação completa para início do oficio.
            Barba feita e cabelos do nariz aparados, la vinha a pedra humes ou as palmas-das-mãos molhadas com alcool. Tudo rápido para dar tempo de pegar a toalha e abanar a face.
            Cabelos de todas as raças. Gente de tudo quanto é tipo e cor. Máquina de raspar era manual. Borrifada de água aqui e alí, barbeiro acolá do cliente, garantia bom corte através do pente fino e máxima concentração; sempre deixando um dos ouvidos para captar as informações do resto da clientela. As vezes arriscava um palpite qualquer em determinado assunto.  
            Cabelo cortado, aplicava-se um fixador caseiro feito de alcool e goma, para garantir o penteado até em casa; uma esborrifada de talco qualquer e, o pincel corria solto entre orelhas e pescoço para remoção do cabelos. Pronto! Espelho pra lá e pra cá era a satisfação de serviço feito. Tudo certo? Quer que tira em algum lugar? A resposta vinha em seguida: - Não. Quanto é?
            Bastava uma chaqualhada na toalha e a olhada para o próximo era convidativa. Vamos lá?
            Hoje, lâmina de marca “Gillette”, máquina elétrica, cadeira que sobe e desce, secador elétrico, barbeador elétrico... No entretenimento: televisor moderno, revistas “Caras”, “Veja”, jornal do dia e um bom ar-condicionado. Esses são os tempos modernos que o nosso tanabiense vindo do bairro “malhador” vem enfrentando nos dias de hoje.           
Geraldo Casado Aguiar
"Dado"
Estou falando do “Dado” barbeiro. Geraldo Casado Aguiar. Ele mesmo. Nosso “Dado”.
            Casado com a simpática Inês de Freitas Aguiar, pai de gente boa: Antônio Carlos, Carlos Alberto e Geraldo Filho. Nasceu no dia 12 de julho de 1944. Está com 68 anos de idade e 56 anos no ofício de barbeiro. Iniciou aos 12 anos com o Sr. Vicente Ingraci (adorava um carteado e, ai daquele que fosse interromper sua partida, a bronca era dada). Filhos de legítimos espanhóis, “Dado” é católico e atualmente está aposentado mas continua trabalhando.
            Foi jogador no Tanabi (modalidade Júnior.), corria como ninguém. Grande e bom folião carnavalesco; bom jogador, exibe seus troféus e medalhas conquistados nesses anos a fora. Participa do tradicional coral paroquial Sta. Cecília e sempre está prestes a servir nossa comunidade onde quer que seja solicitado.
            Geraldo Casado Aguiar é gente boa para perder o tempo num bate-papo. Vale a pena. É amante incondicional do Palmeiras Futebol Clube e ponto final, assunto encerrado. Rs.
            Atualmente seu salão fica na Rua Cap. Bonfim, número 357, centro de Tanabi.
            Aproveitamos a oportunidade e erguemos seus troféus aos demais barbeiros e cabeleleiros de Tanabi onde rendemos nossas homenagens, saudemos: Ézio Batélo, Adão, Hildo, Ado, Miguel, Pedro Felício, José, Manoel, Antônio (Niquinho), Edson, Nelson, Luiz, Anderson, Rubéns, Marcos de Paulo Casarin (Finin), “Baiano” , Vagner...
            Aos nossos BARBEIROS E CABELEIREIROS nossas homenagens. Vocês deram e continuam  dando a beleza através dos cortes muito bem feitos. Neles, dedicação e amor. Fiquem com Deus. “Fígaro cá!”, “Fígaro lá”.


                                                                                                  Tanabi, 21 de novembro de 2012
                                                                                                           Terso Marcel Mazza.


Nossos Tintureiros


          Lavar, passar, engomar, tirar manchas e corrigir pequenos defeitos de roupas finas e algumas, exclusivas. Ternos, saias, calças, vestidos, tapetes...
            Atividade quase extinta; tempos em que tudo era mais fácil e todos viviam muitíssimo bem. O tintureiro deve conhecer muito bem a técnica para um bom tingimento. Às vezes, a cor obtida não é a desejada, por isso, deve se manter o máximo de cuidado.
            Ferro pesando de quatro a seis quilos é a peça fundamental para o arremate. Eis um segredo ali e aqui, cada tintureiro com sua técnica para remoção de manchas, dobras no tecido e assim por diante. Uma camisa de linho para ficar bem passada, leva em torno de vinte e cinco minutos.
            Em Tanabi, décadas passadas de glamour e brilhantina, um bom terno impecavelmente passado, era o sucesso da ocasião. Quantas senhoritas não encaminharam algumas de suas toalhas do seu enxoval para remover aquela mancha adquirida pelo tempo de depósito no baú. E aquela gravata de ceda? E aquela saia plissada que fora atingida por uma gota de gordura na festa de alguém.
            Aquela barra do vestido ou da calça em que dia de festa deixou uma estória no clube, muitas delas de amor e posteriormente casório. 
            Cabide de madeira, mesinha em modelo francês revestida com um cobertor e sobre ele, um saco alvejado (sacos que vinham com açúcar para o fabrico dos produtos) adquirido na fábrica do Sr. Moscardini, Zuanazi e posteriormente família Mattos – indústria de refrigerantes “Arco Íris”. 
            Prendedores de madeira, varal de arame farpado e liso, pedras de anil em trouxinhas de pano qualquer; na parede em reboco mal acabado, geralmente, um fio apontava entre vigotas e terças em reta infinita com término numa tomada de louça e, nela, o fio do ferro. Anteriormente, ferro a brasa.
            Sempre ao fundo da residência, um local para o artifício ou talvez o segredo. Fogão a lenha ou balde com serragem sempre a espera da lata de dezoito litros para a fervura da roupa. Tradicional tinta de marca “Guarany” ou “Tupy”.
            Batedor de roupas nem pensar. Bacia de zinco feita no Sr. Clarindo Roveran era a recepcionista da peça. Lavagem feita na mão e com muito carinho e zelo.
             O tintureiro na maior parte é um clínico geral. Além da lavagem, tingimento e passagem da peça confiada a ele, faz também alguns ajustes e consertos, ora fixar botões, ora acertar a barra quando necessário e, coisas a mais se necessitar.
           
Pereira
In memorian
E com isso tudo, vamos lembrar do Sr. Antônio Pereira da Silva. O “Perera”, ou “Pereira” tintureiro.
             Nasceu no bairro de Ipiporanga – ibi-terra; poranga-bonita (“Cachoeira dos Felícios”), no dia 07 de junho de 1935. É descendente originário de brasileiros. Casou-se com a Sra. Ermide Boreli da Silva (lavadeira) e tiveram quatro filhos: Marco Antônio, Paulo, Cesar e João Felício.  Era católico.
            “Perera” foi artífice no seu ofício. Foi gente educada e simples, conviveu na sociedade tanabiense através de seu dom musical. Foi um grande músico na área da percussão. Tocou na orquestra do maestro Silvio Bertoz, Bandas Municipais de Tanabi, Monte Aprazível, Mirassol; banda Tropical do Ten. José de Souto Cirne; viveu no Grêmio Literário, no Cruzeiro do Sul, Tangarás, T.C.C. Foi boêmio. Conheceu todos os rítmos e deles, tocou o bailado, machixe, samba.
           
Dupla Nhô Bela e Fumaça (Pereira)
Foi locutor na rádio clube de Tanabi. “Pereira” e Alonso Belarmino (“Fumaça & Nhô Bela”) faziam tradicionais programas sertanejos. Trabalhou na extinta escola de “Comércio” e foi bom garçom. Mas nunca deixou de ser tintureiro. E lá se foram cinquenta anos tingindo.
            Iniciou o ofício muito criança. Seu mestre foi o Sr. Antunes. Sua mãe, a Sra. Maria José da Silva também foi lavadeira em Tanabi. Isso, falamos á setenta anos atrás. 
                        Faleceu no dia 16 de julho do ano de 1995, vítima de um acidente vascular que o havia deixado enfermo por algum tempo. Nossa terra abriga teu corpo; aqui está sepultado. Sua esposa, a Sra. Ermides, atualmente reside na Rua Gabriel José de Oliveira, 68, fundos, bairro Jardim Brasília. Gente boa para prosear. 
            Contudo, saudemos: Antunes e Carmona – Tinturaria “Sabará”; Antônio Pereira – Tinturaria “Lider”, André Moura, “Miguelito”, Tercília, Manoela Bibiano, Ermides Boreli...
            Vocês foram baluartes no ofício. Deram cores vibrantes, realce e novas “vidas” ao que era ou parecia ser velho. Isso tudo, com muita luta e trabalho; acima de tudo, a dignidade e esmero.
            Que a Santa Lídia, protetora dos tintureiros possa vos iluminar sempre. Obrigado por vocês existirem.

                                                                                                Tanabi, 28 de novembro de 2012
                                                                                                                                         Terso Marcel Mazza

Nossos (as) Floristas

             “...se no teu verde ramo é que me enlaço...”, diz Luiz Fúmiz; “...sentindo que andou no ar, um perfume de mirra...”, arremata João de Mello Macedo. Até os poetas usaram delas e fizeram das flores suas expressões poéticas e artísticas. Plantas, bouquets, cestos, arranjos, trabalhos fúnebres, ramos, decorações variadas, jardinagens...
            Tempos atrás, vasos de xaxins, ‘rendas’ portuguesas, antúrios... Eram o charme de moça recém casada exibindo flores em sua residência. Tempos em que se faziam coroas fúnebres de flores em ferro, com latinhas de óleo e, decoração em dia de casamento, era feito em suporte de madeira com cones de latas pregados em torno, cheios de flores. Na igreja, cada santo (a) com sua flor. Tudo como de costume.
            Tempos em que pedido de noivado e casamento eram feitos com um belo bouquet de rosas para a dama e acompanhado de um lindo anel em ouro com pérola.
            Rosas, tulipas, antúrios, girassóis, lírios... Palmas vermelhas em caixão de rico e margaridas em caixão de pobre. Em crianças, flores brancas. Mas tudo flores.
            Casamentos, aniversários, noivados, namoros. Até nos dias de hoje elas completam o ambiente e da um visual brilhante. Que digam os românticos. Nossa Tanabi é tropical, prova disso são nossos ypês (amarelo, branco e roxo) que quando florescem, alegram nosso ambiente.           
Rosa Mioko Tanaka
(In memorian)
Que diga nossa florista de saudosa memória, a dona Rosa Mioko Tanaka. Primeira mulher a instalar uma floricultura na cidade de Tanabi.
            Vinda do Japão. Chegou em Tanabi na companhia de uma tia e foram residir no bairro da “Fortaleza”. Tinha ela, quatro anos de idade. Posteriormente, vieram seus pais que procuravam uma vida melhor, haja vista, o quadro de guerra que acontecia no país de origem.
            Dona Rosa, nasceu no dia três de março de 1928. Aqui conheceu e casou-se com o Sr. José Yoshio Kyomura e ajudou a criar os seis filhos que com ele vieram do seu primeiro casamento: João, Maria-1, Tereza, Maria-2, Marina e Mariza.
           
Loja no antigo mercadão
Até então, a roça era o sustento de toda a família. Com a inauguração do extinto mercado municipal (inaugurado no dia quatro de julho de 1956, iniciando suas atividades no dia 16 de setembro do mesmo ano. Atualmente – Paço Municipal), o casal montou uma banca de “secos e molhados”, além de verduras, legumes e demais produtos. Na verdade, de tudo um pouco.
            Lá, permaneceram até o falecimento de seu esposo, no ano de 1974. Dona Rosa vendeu a banca e, em sua residência que ficava na Rua Cap. Daniel da Cunha Morais, 215, centro de Tanabi, montou uma floricultura; tudo simples. Uma empresa informal que durou oito anos até a vinda de uma fiscal da cidade de Votuporanga que lhe aplicou uma multa pela informalidade que quase lhe custou o fechamento do pequeno comércio e tudo que tinha economizado. Nascia ali, a “Floricultura Tanabi”, dessa vez, tudo nos conformes da lei.
            Dona Rosa foi uma mulher que muito batalhou para criar os filhos que adotou. Colocou-se a disposição vinte e quatro horas por dia no seu ofício. Eis que morria alguém e, lá, batiam na sua porta em busca de flores; geralmente na madrugada. Atendia casamentos, funerais, festas cívicas... Quantas noivas não passaram por ali. Aqui adquiriu muitas amizades e com elas, ajudou nossa Tanabi. Era católica praticante e pertenceu às diversas irmandades católicas e muito contribuiu para a igreja.
            De bom coração, ajudou os pobres e repartiu com eles o pouco que tinha; sempre atendeu a todos que em sua porta bateu. Com idade avançada e doente, dona Rosa através de seus familiares, passou a direção da floricultura no dia treze de março de 1988, para o Lúcio Alves Garcia (o Lúcio da Floricultura); funcionário que com ela iniciou aos oito anos de idade.
            Dona Rosa da floricultura ou Rosa do mercadão para os mais antigos, faleceu no dia três de dezembro de 1999. Seu corpo está sepultado no Cemitério Central de Tanabi.
            Saudemos nossos floristas que fornecem e cuidam de nossas plantas: Lúcio Alves Garcia & Sandra de Fátima Bueno Garcia – “Floricultura Tanabi” e Paulo Fernando Lissoni Leonardo & Rosemeire Renesto -  “Floricultura Sempre Viva”. Lembremos também da “Floricultura Biduzim”, da Beti Batelo e “Mauro Floricultura” do Mauro Cecílio que também tiveram floriculturas.
            A vocês, as flores agradecem. Vocês sabem perfeitamente a harmonia entre o tipo de flores e suas cores. Tem senso estético nas decorações. O resto fica por conta dos poetas.

                                                                                     Terso Marcel Mazza
                                                                                              Tanabi, 05 de dezembro de 2012 

Nossos "Carrinheiros" e "Charreteiros"


              Ruas de terra. Tanabi do século passado. Eis que chega o pedregulho na rua central da cidade. Progresso! Calçadas com argolas de ferro na sarjeta à espera de animais vindos da zona rural. Nossos carrinhos de tração animal.
            Carrinhos com caçamba, rodas de madeira, banco central revestido em pelego de carneiro ou pano qualquer, bom e manso animal na tração. Geralmente, um cachorrinho em baixo do carrinho acompanhava o percurso. Que digam nossos padeiros, leiteiros, verdureiros, oveiros... Tempo em que o veículo era o tradicional carrinho.
            Muito comum no sertão, os carrinhos prestaram relevantes serviços ao homem. Em Tanabi não foi diferente. O ponto dos carrinheiros era na Rua Marechal Deodoro com a rua Cel. Militão, ao lado da antiga CPFL. Hoje, comércio de carros usados. No local, chegamos a ter dezessete carrinheiros prestando variedades de serviços: transporte de entulhos, areia grossa e fina, tijolos, telhas, pequenas mudanças (geladeira de marca Frigidaire da General Motors, guarda-roupas...). Carrinhos de tudo quanto era jeito, a gosto do freguês.
            Tempo em que transportes e mudanças “chicks” eram feitos pelo do Sr. Pedro Andreazzi em seus caminhões de marca Ford e Mercedes, isso, para quem podia pagar. Fora disso, adentrava em cena, os nossos carrinhos com seus preços módicos.
            Que diga os nossos ferreiros nas confecções das ferraduras. Bom carrinho era comprado na oficina do Sr. Oliveiro Batélo, o velho “Bidú”; oficina do Soldo e Lorenzon e, mais recente, madeireira “Estrela”.                                         
            E as charretes? Lindas charretes com desenhos verdes e amarelo ouro, sendo o vermelho de preferências das “damas” de casas... Digamos noturnas. Alguém se lembra da “Toreira”, nome de guerra de umas delas? Rs. Charretes com lindas capotas de cor preta era o xodó de muitos.  Era romântico ver as charretes sendo conduzidas pelas ruas de pedregulhos, às vezes de terra batida mesmo, e a turma ouvindo o trotar do cavalo e o indefectível som das suas ferraduras. Como sempre, a charrete parece ser mais veloz.
            Quando estacionadas, as charretes ficavam de capota baixada. Quando em movimento levando o cliente a capota era levantada para o abrigo do sol e também da chuva. Quantas idas e vindas foram feitas à estação ferroviária de Tanabi em busca de passageiros. O ponto das charretes era ao lado da atual padaria do “Ponto”, perto da rodoviária, cerca de alguns passos.           
Raul Zanforlin
In memorian
Que diga o Sr. Raul Zanforlin que desde menino iniciou na lida em meio aos animais. Homem alto de olhos azuis em que a descendência europeia é firme até no contexto. Puro sangue de italianos.
            Nasceu no dia quatro de maio do ano de 1926, e, atualmente está com 86 anos de idade. Casou-se com a Sra. Maria Beás Zanforlin e tiveram os filhos: José, Nilson, Anésio, Nelson, Iracema e Aparecida. É evangélico.
            Seu Raul trabalhou muitos anos como carrinheiro; fez de tudo um pouco com seu carrinho. Tinha um cavalo de raça marga-larga, de sete palmos de altura e cor “castanha”. Seu nome era “Néco”.
            Atualmente, é aposentado em face de seu coração ter lhe pregado um enorme susto. Acredita ele ser coisas da vida. Mas sente muita vontade de trabalhar. Vontade mesmo. Residia na Rua Maria Paulista, número 142- fundos; centro de Tanabi. Calmo e atencioso, gosta de prosear infinitamente. Digo que é prazeroso ouvir seus contos.
            Em seu nome, saudemos: Mariano, Cassiano, “Guilin”, Calavãns, Moscal, Miguel, Carlos Avanço, Aparecido, Francisco Câmara, Anésio, Roque, Tanaka, Aníbal, “Pernambuco”, “Canhoto”, Francisco, José, Pedro...
            Vocês deixaram algumas linhas para o complemento da nossa história e muitas saudades de um tempo que não volta mais.  Foram homens de labuta. Deus vos abençoe.  

                                                                                                                 Tanabi, 12/12/2012.
                                                                                                                                                       Terso Marcel Mazza.

Nossos Seleiros e trançadores


               Para uma boa marcha seguida de charme, o animal devia estar muito bem arreado em tempos antigos. Um animal muito bem “trajado” na montaria era digno de ser observado por onde passava. Cabeçada, cabresto, rédea, boçal ou cabo de cabresto, “peiteira”, arreio, baixeiro, barrigueira, travessão, estribo, chinchado e laço era os paramentos para o bom e estimado animal. Às vezes, uma espora em alpaca, bronze ou prata, enfeitava ainda mais a cena.
            Tapa, rédea, cabeção ou abridão, “cuaieira”, selote, mangóte e retranca era a tralha das carroças e charretes. Artefatos de couro produzidos artesanalmente por nossos seleiros.   Trabalho duro e complexo onde requeria muita paciência. Acima de tudo, a expressão da arte e o dom.
            Toda “tráia” em tempos de moda, devia ter um acompanhamento, o reio, que era feito por nossos trançadores. Elemento fundamental para determinar o andamento e o trote do animal. A preferência e as qualidades eram diversas: reio - com duas pernas, duas ou três argolas e na ponta a guasca; reio de uma perna com uma, duas ou três argolas com guasca na ponta; piola - com cabo curto de madeira, quantidades de argolas conforme o comprimento da trança com guasca na ponta; jibóia - trançado do cabo até a ponta tendo como arremate a guasca; táca - com uma argola e duas tiras de couro largas afuniladas e costuradas nas bordas com tentos de couro e esculturas e desenhos no meio; reio de carroça ou charrete, que era de cabo comprido com uma argola e trança curta com guasca na ponta. O comprimento ficava ao gosto do freguês.
            O bonito era ver o manuseio dos reios no dia-dia. Muitas vezes, não era necessário atingir o animal e sim, impor o andamento do trote apenas com o estralo da guasca. Para isso, a habilidade do peão tinha que ser apurada com muita técnica. Do contrário, punha os seus olhos em xeque. Alguns faziam questão do laço, muito usado no campo.
            Para a garantia de uma boa “traia” recorria-se aos ‘seleiros’ e ‘trançadores’ de Tanabi.
Francisco Pereira da Silva
In memorian
Que diga o Sr. Francisco Pereira da Silva, de saudosa memória.
            Nasceu no dia 21 de abril do ano de 1934, na cidade de Guanambi – BH. Filho de típicos brasileiros baianos e tradicional família católica onde seguiu até a sua morte que ocorreu no dia 29 de setembro de 2007, vítima de um enfarto fulminante. Trabalhou até o dia de sua morte.
            Ainda criança, mudou-se para a cidade de Santa Albertina e ali, aprendeu o ofício de seleiro com o seu irmão Nelson. Conheceu a senhora Carmem de Jesus e com ela se casou. Em busca de novos horizontes e qualidade de vida, no ano de 1964, muda para Tanabi. Aqui, o casal teve três filhas: Deolinda, Dórislei e Delcimar.
            Sabendo e conhecendo artefatos de couro, foi trabalhar no antigo e extinto curtume do Sr. Sebastião Goulart (hoje, hotel em construção no bairro da Vila Tomáz), onde residia na colônia ali existente. Vendo que o curtume não andava muito bem com suas finanças, resolveu abrir o seu próprio negócio: a Selaria “São Francisco”, na Praça Stélio Machado Loureiro, nº 215, atualmente salão de beleza em frente á rodoviária municipal. Mais tarde, transferiu o local de trabalho para a sua residência tendo em vista os tempos difíceis que se encontrava a economia do país.
            Gente calma e boa de prosa, muito trabalhou para atender nossos ruralistas e amantes da boa montaria. Baiano bom de dança. Gostava de um “arrasta pé”; chegou a ser presidente do Clube de Convivência da Terceira Idade, onde prestou relevantes serviços ao povo e a cidade. Por muitos anos, foi premiado nos tradicionais passeios ciclísticos como sendo o mais idoso; ele, e seu papagaio. Muito colaborou também com as festas de “Peão” de Tanabi, doou muitos artefatos que fabricava e produzia: selas, arreios além de prestar serviços aos peões e boiadeiros da região. Sua família reside na Rua Polenice Celeri, nº 275, centro de Tanabi.
            Na sua pessoa, saudemos os nossos seleiros e trançadores: Gustavo F. Nogueira – “Sellaria Nogueira”, Rua Conselheiro Antonio Prado (atual Cel. Militão) - ano de 1934; “Selaria Paulista”, Rua Cel. Militão, 501, ano de 1942; Francisco Garcia “Selaria Brasil”, Rua Cel. Militão, ao lado da Casa Esteves, ano de 1954; Primo Gurzoni – “Selaria Paulista”, Rua Cel. Militão, 501, sendo depois, “Casa Paulista” mudando para o nº 682, fone 72 1198;  Eduardo Cavassane, “Nenê” Duó, Francisco, Antônio Mazza, Nelson “trançador”, “Saravá”, Antônio Cardoso, José Cardoso, Belarmino...
            Tanabi agradece o trabalho e o emprenho de vocês. Saudades de um tempo que não volta mais. Os trotes de nossos animais ecoam somente na mente daqueles que viveram e vivenciaram tempos idos.
                                                                                                            Tanabi, 19/12/12
                                                                                                                                               Terso Marcel Mazza



Nossos Sapateiros


           Artistas de mãos. Tempos de outrora, onde se usavam botas de couro para abrir picadas na mata do sertão. Que digam nossos boiadeiros e vaqueiros da então calada e quieta estrada boiadeira.
            Martelo, pregos, taxinhas, percevejos, cola, bigórnia, graxa, avental de couro, linha e agulha, são os instrumentos principais para o traquejo. Em tempos de brilhantina, o sapato (para quem podia) era sinônimo de status. Reluzia nos pés, ainda mais em tempo estando na moda.
            Para alguns: “sapato para ir à missa”, “sapato para ir ao baile”, “sapato para dias de festas então somente...”. Houve tempos, em que o baile na roça despertava alvoroço ainda mais em dias chuvosos em que os sapatos eram transportados cuidadosamente em sacolas e calçados somente quando adentrava ao terreiro (café); todo cuidado era pouco. Só tinha aquele par.
            Troca de salto, costura, tingimento, sola nova, consertos em geral, faz parte do manejo e da arte de ser sapateiro. Eis um toque ali, e tudo volta a ser como antes. Desde que, seja um bom sapato. Hoje, a sofisticação é plena e a tecnologia comanda a produção.
            Porta estreita está aberta na rua Cel. Joaquim da Cunha, ao lado direito do número 549, centro de Tanabi. Lá dentro, cheira a tinta, cola e graxa. Cheiros fortes num silêncio quebrado pelos sons das pequenas ferramentas manuseadas pelo homem sentado num pequeno banco de madeira com assento entrelaçados de percinta.
Alípio Ribeiro Neves
'mudinho'
Ele se chama Alípio Ribeiro Neves, conhecido carinhosamente com “mudinho”.
            De descendência portuguesa com certeza, pertence a uma família digna de trabalhadores. É católico, nasceu no dia onze de janeiro do ano de 1936, na cidade de Serra Azul-SP; foi registrado sete anos depois do seu nascimento na cidade de Bálsamo-SP, onde posteriormente mudou-se ainda criança para a cidade de Tanabi. Atualmente conta com seus 77 anos muito bem vividos.
            Atencioso, atende todo mundo de forma educada e não explora ninguém. Humildade lhe é peculiar. É amante de um bom carteado e adora dançar. Mesmo com deficiência na fala, ele se comunica perfeitamente bem com os seus clientes. Atualmente, reside no Lar “São Vicente de Paula” que fica na Rua Olício Bernadino Viana, s/n, bairro Jardim Covizzi - Tanabi. Faz 50 anos que exerce o ofício e está no mesmo lugar até hoje. É um grande imitador de personagens políticos de Tanabi: José Siriani, Dr. Venizelos Papacosta, Alberto Víctolo...
            Viva nossos sapateiros: Milon Ferreira da Silva – “Sapataria Pery”, Cel. Militão, 589 – Déc. de 50; Rosário Andrignoli – “Sapataria Guarani”, Cel. Militão, 463 – Déc. de 50; Francisco Garcia – “Sapataria Brasil”; Dagmar Bonfim – “Sapataria Bonfim” (segundo o historiador Sebastião Almeida Oliveira, o primeiro sapateiro de Tanabi foi da família Bonfim – ano de 1890 aproximadamente.); Primo Gurzoni, Valdomiro e Gumercino (irmãos do Alípio Ribeiro Neves); Nelson Fantin, Lacrózio de Castro, Leoni Mazuco, Jair, Antônio, Arnaldo Bertozi (Sanica), João Tangerina...
            Nossa história é composta de gente boa. Gente que contribuiu e continua contribuindo para o nosso progresso.
  

                                                                                                Terso Marcel Mazza, 17/01/2013


Nossas Costureiras

            Anos 50,60,70 … Apogeu da costura. Mulheres de cinturas “finas”. Vestidos longos e saias godês, plissadas... Elegância feminina. Tanabi do sertão.
            Nossas costureiras. Cada canto da cidade, uma. Aliás, muitas delas. Mulheres que davam o tom de serenidade e respeito na vestimenta feminina da época. Boa costura e goma perfeita era o visual que causava olhares vivos nos modelitos.
            Tempo em que a moda vinha através dos filmes exibidos no cinema “Cine Rio Branco”; revistas: “Jornal das Moças”, “Manequim”, “Querida”, “Vogue”; atualmente: “Caras”, “Contigo” e demais tabloides especializados em temas (casamentos).
            Organza, organdi, crepe, algodão, cambraia de linho, tafetá, renda portuguesa e francesa, cetim, guipir... Máquinas a pedal, tesoura de marca corneta, posteriormente “Tramontina” ou “Cavalinho”; dedal de louça ou metal, fita métrica de tecido e caderneta para anotar as medidas e a prestação (fiado) da cliente era comum nas mesas improvisadas das nossas costureiras.
            Tempo de festas, bailes, formaturas; máquinas “Singer” e “Vigorelli” trabalhavam a todo vapor. Feitura corria solta. Ai da dama que deixasse para a última hora, corria o risco de ter que repetir a roupa no evento.
            Modelo pronto e passado, só era visto em hora e dia determinado. O resto, vinha por conta do desfile e apreciação entre os pares.
           
Elenir Damião Machado
Nossas estilistas e figurinistas, falo da Sra. Elenir Damião Machado, conhecida carinhosamente como “Didi”. Sempre sorridente e pronta para servir, nasceu na cidade de São José do Rio Preto no dia 06 de junho do ano de 1953. Mudou-se para Tanabi ainda jovem, com vinte e três anos de idade e com ela, trouxe a arte da costura; a fina costura.
            “Didi” é de descendência italiana, percebe-se pelo jeito de se comunicar. É católica. Faz mais de cinquenta anos que está no ofício. Esbanja prática e conhecimento no que faz. É fina. As máquinas: reta, overlock e galoneira se interagem muito bem em suas mãos. O vai e vem é certeiro. A regência entre as agulhas é plena e o golpe no arremate é perfeito. Impecável. Reside na Rua 9 de Julho, nº 1075, centro de Tanabi. 
            Saudemos nossas costureiras: Edinir, Isolda, Mariana Targa, Vera Alice, Vanda, Laura Canhizares, Lúcia, Maria Cáprio, Lairde Mazza, Ana Maria Esteves Estrela (“Nica”), “Lôla” Caprio, Hermantina de Oliveira Villela – Atelier de costura, déc. de 40. Maria José Castro Aguiar “Escola de Corte e Costura”, fundada em 23 de maio de 1943 - Ficava na Rua Sete de Setembro, 355, ao lado do Hotel Central. Ecléia, Aurélia Andrioli, Alzira Orueta, Olga Galvani, Iracilde Neves, Maria Moreira, Noélia Canela, Teresinha Rodrigues, Jacilda Licione Leonardo, Teresinha Avanço, Margarida Borin, Laura Fernandes Mazza, Santina, dona “Preta”, Ademar, Sônia Savatin, Lena, Perciliana, Marinês, Ivete Batelo, Lurdes Assis, Elena Longo, Militana, Margarida, Madalena Campanhola...
            Vocês transformaram e transformam um embrulho de pano em lindos e belos vestidos. Arte da construção. Deus vos abençoe.

                                                                                                Tanabi, 23/01/13
                                                                                              Terso Marcel Mazza



Nossos Podadores


                   Tanabi, cidade do sertão. Clima tropical e ameno que é beneficiado pela construção dos lagos artificiais dos rios Paraná e Grande. Aqui, é difícil a espécie de árvore que não se adapta com o nosso clima. Oitis, sibipirunas, ypês, canelinhas, sete copas, quaresmeiras roxa, figueira benjaminas, fícus... São as espécies mais comuns de nossa cidade. 
                        Por sua imponência e utilidade, as árvores ornamentais são obrigatórias em qualquer paisagismo, produzem as disputadas sombras em dias austeros de sol bravio e permitem a reprodução de nossos pássaros, esbanjam cores e enfeitam nossas ruas com suas flores e pétalas que circulam pelas ruas conforme o vento determina, pra lá e pra cá.
                        A conservação das arvores é um atestado de maturidade de um jardim ou uma cidade. Nossas arvores são bonitas, dignas de serem apreciadas no seu florescer; cada qual no seu tempo determinado. Viva a primavera! Viva a natureza! Natureza, como tu és bela.
                        Em nossos logradouros, podemos observar variedades de árvores e seus tipos de ornamentações; cortes quadrados, retangulares, oval, reto, redondo... Tudo em perfeita sintonia com a natureza. O gosto pelas espécies vem de quem as planta. Para que tudo isso ocorra, é necessário um bom facão, serrote de marca “Griffe”, escada, tesoura de poda e uma boa lima para afiar e garantir o corte certeiro.
                       
Baltazar roberto Poltronieri
Eis a figura do ilustre Baltazar Roberto Poltronieri. Tanabiense da gema. Nasceu no dia 09 de janeiro do ano de 1955. É católico e descendente de italianos.
                        Menino bom de prosa, Baltazar é solene naquilo que faz. Tem visão de perfeição e habilidade com suas ferramentas. Entre uma copa e outra, é hábil no seu cigarrinho de palha envolvido com fumo da marca “Galo” e às vezes um tradicional “Goiano”.
                        É perfeito no seu ofício, um “artista plástico” de nossas árvores.  Faz questão de preservar as árvores e principalmente suas copas e, as mantém longe da fiação elétrica para não causar danos. Antes de qualquer poda a observação é segura e revista em cada canto da copa, haja vista, que pode deparar-se com uma inesperada caixa de marimbondos ou ninho de passarinho qualquer, todo cuidado é pouco.
                        Está na lida faz mais de trinta anos e tem orgulho do que faz. Atualmente reside na Rua Eduardo Alves Ferreira, número 27, bairro Nova Tanabi.
                        Saudemos nossos podadores de arvores: João Ribeiro, João de Matos Ferreira, Manoel Xavier de Castro, Antônio, “Paçoca”, “Marajá”, Ernesto, José, André...  A poda artística e sua forma geométrica ornamental é bonita. E disso, vocês entendem perfeitamente bem. Deus vos abençoe.

                                                                                                    Tanabi, 30 de janeiro de 2013  
                                                                                                            Terso Marcel Mazza

 Nossa Cantora



                     Hoje, abro um parêntese em nossos artigos “Ofícios de Tanabi”. O carnaval pede passagem. O momento é propício e alegre.
                        Grêmio Literário e Recreativo de Tanabi, Sociedade Recreativa “Cruzeiro do Sul”, Corso, Clube dos “Tangarás”, Tanabi Cestobol Clube, Clube dos Trabalhadores (Municipal), Escola de Comércio (“PuxaTeta”). Clubes e desfiles que marcaram sem dúvida alguma, a trajetória cultural e artística de Tanabi em especial o nosso carnaval.
                        Aqueles bailes carnavalescos de antigamente, com muita luz e brilho regado ao lança perfume e a alegria. O som de nossas orquestras e bandas foram contagiantes. Principalmente quando os naipes de instrumentos se fortaleciam no solo e passavam do piano moderato para o forte – fortíssimo.
                        Quantos namoros começaram timidamente em nossos carnavais? Quantas paqueras (flertes)? Quantos “quilômetros” não foram rodopiados em nossos salões ouvindo o som maravilhoso e acústico de nossas orquestras? Tempos de “Bandeira Branca”, “Pierrot Apaixonado”, “Confeti”, “Chiquita Bacana, laaaaa da Martinica”.
                        Fantasias, confetes e serpentinas, lança perfume, bastão decorado com pedrarias. Alvoroço generalizado na cidade e na confecção das fantasias, segredo absoluto entre os blocos. Nossas exuberantes rainhas e seus reis no círculo contagiante musical que era esperado durante o ano todo.                       
Que diga a nossa cantora Aparecida Alonso no auge de seus quase setenta e seis anos de idade. Ela nasceu no dia 10 de março do ano de 1937, na cidade de Tanabi. É descendente de italianos e mineiros. Sua crença é espírita.
                        Dona Cida, é gente modesta e fala em tom menor; é calma e serena por toda vida. É artista. Compôs os hinos do “Centro de Convivência da Terceira Idade” onde é sócia fundadora e, do projeto “Raioz de Luz” de Tanabi, além de outros ligados a sua crença. Presta relevantes serviços à comunidade. Participa de nossos corais e é cantora por excelência. É filha do Braz Alonso (cantor e violinista) que tinha um programa na Rádio Clube de Tanabi chamado “Pratas da Casa”; nele, apresentaram-se: Zulema Ferraz, Nelson de Castro, Euzébio Garcia, Spartaco Scrocchio, Leonilda Bula e Barbozinha... Cremos que sua “genética” musical veio daí.
                       
Cida Alonso quando cantava na orquestra do Sílvio Bertoz
Participou das orquestras e dos conjuntos do maestro Silvio Bertoz, sendo cantora ao lado de Rui Rocha e demais músicos: Pereira, Álvaro Jonas, José, “Piada”, “Tim”, Euzébio Garcia, Leonildo, Ditinho... Os ensaios eram feitos na residência do Silvio, ao lado da escola Ganot. Cantou muitos carnavais em Tanabi e toda a região. Atualmente, dona Aparecida Alonso reside na Rua Barão do Rio Branco, 860, centro de Tanabi. É comum vê-la em nossas ruas distribuindo elegância e charme através do seu andar compassado e sua inseparável companheira, a sombrinha.
                        Tivemos a “Tanabi Orquestra”, Orquestra “Ayndaes”, Orquestra “Sul Americana”, todas elas do maestro Silvio Bertoz, além do conjunto  “Silvio Bertoz & seu Conjunto”, José Vieira e & Conjunto, Orquestra “Tiroleza” (Ten. Cirne), “Cirinho e & Orquestra (Moacir Bertozi), “Cirinho Banda Show” (Moacir Bertozi), Banda “Tropical” (Ten. Cirne), além de nossas tradicionais bandas musicais de coreto e demais conjuntos modernos.
                        Tivemos várias marchas de carnavais compostas por nossos músicos dentre eles, cito o professor e saudoso Antônio Monteiro (in memorian), o nosso “Monteirinho”.  
                        Para esse carnaval, deixo um trecho de autoria do “Monteirinho”:  ...a moçada faz samba e dança no pé / S’imbora agora, é carnaval rapaziada...

                                                                                                                        Terso Marcel Mazza
                                                                                                                                                                     Fevereiro/2013 


Nossos arrancadores de tocos

                         Quem nunca arrancou ou mandou arrancar uma árvore defronte a sua casa para melhorar a infraestrutura da calçada ou do logradouro? Porque não, um novo visual na residência ou outra necessidade qualquer para a extração, haja vista, que um dano maior possa ocorrer na tubulação de esgotos ou na distribuição da água encanada.
                        Eis que surge novo projeto de construção e a árvore lá existente não se encaixa nos padrões da arquitetura ou paisagismo pretendido ou então, há a necessidade de nova muda, devido á moda paisagística ou simplesmente arrancar para não haver sujeiras no local. 
                        Árvores de tudo quanto é jeito e tamanho: grandes raízes, longos peões; madeira dura, grossas, finas, copas com altos diâmetros e assim por diante.
                        Contudo, para à remoção, precisamos de gente com mãos calejadas e que tenha força nos braços para o ataque com o machado.
                       
Fidelcino Marques da Silva
Falo do seu Fidelcino Marques da Silva, tanabiense nascido no dia trinta e um de março  de 1924, na “Cachoeira dos Felícios” (grande imóvel rústico assim denominado por ter sido habitado, há mais de um século, pela família Felício, tronco dos Maciéis; banhada pelo ribeirão da Cachoeira e seus tributários: o Belarmino, o Cambaúva e outros menores; limita-se com as fazendas Jataí, Nova, Barra Mansa e com Rio Preto, sendo cortada pela estrada de autos, Tanabi – Américo de Campos; pertence à 2ª. Zona Distrital de Ibiporanga a partir do córrego da Cambaúva e o restante à zona da sede. *Fonte - Sebastião Almeida Oliveira).
                        É descendente de mineiro e italiano, seu nome (Fidelcino) vem de seus ascendentes: tataravô, bisavô e avô.  Professa o catolicismo no qual foi criado e tem muita Fé.  
                        Homem de olhos verdes claros, é um gentleman. É homem de modos e fina educação: “Sim Senhor; Pois é, Senhor”. No auge de seus 89 anos, quase “todos” dedicados á zona rural, já fez de tudo um pouco. Foi lavrador, furou cisternas, roçou pasto, partiu (rachou) madeira, e sempre arrancou tocos de tudo quanto foi tipo de árvores. Considera o cedro como sendo uma das árvores mais fácil de arrancar e, a oiti, sendo uma das mais difíceis.
                        Seu maior desafio foi à retirada integral das árvores do “Campo Santo” (cemitério), onde não causou um “arranhão” sequer em um jazigo. Atualmente, está aposentado em face de um acidente vascular. É viúvo e, possui união estável com a Sra. Benedita Diarcompare, há mais de 30 anos, do qual vive imensamente feliz ao seu lado.
 Pelos seus relevantes serviços prestados ao povo e a cidade de Tanabi, recebeu o título de cidadão emérito tanabiense no dia três de julho do ano de 2006. Atualmente, reside na Rua José Serafim da Silva, número 965, centro de Tanabi.
Marina, Maria e Benedita
                   
 Segue os seus passos na lida, a sua filha Marina Marques da Silva, 52; e suas sobrinhas: Maria Rosa Felipe de Morais, 54; e, Benedita José de Oliveira, 43.

                        A vocês, a nossa gratidão e o reconhecimento do vosso trabalho. Deus vos abençoe.

                                Tanabi, 12 de fevereiro de 2013.
                                          Terso Marcel Mazza 

Nossos Pipoqueiros


                     Sentinelas a céu aberto. Eles guardam nossa praça central, armados de carrinhos de pipocas e guloseimas. Fogareiro simples, panelas adaptadas para o estouro do milho, banquinho de madeira, garrafão d’água e demais apetrechos são as ferramentas necessárias para uma noite de trabalho. Fim da tarde. A lua pede licença para eles adentrarem em nossa praça. É noite.
                        Carrinhos de latão envolvidos por vidros, portinhola com pequena tramela, fecha e abre (“nhéque”, “nhaque”) á todo momento, eis uma pipoca aqui e acolá. Em dias de festa, é uma festa. Linda praça decorada com nossos pipoqueiros. E as bexigas rococós, bojudas, retas, brancas e listradas, presas numa roda de bicicleta? Todas elas enchidas no fole e amarradas com barbante adquirido na venda do seu “Vespa” ou do “Vendramini”; falo em tempos de outrora.
                        Tempos de balas “Piper”, “Chita”, “Sete Bélo”, “Sófti” sendo que hoje, o “Trident” e o “Ralls” dominam a preferência juvenil.
                        O relógio de marca “Michelini”, instalado na torre da matriz é ponto determinante para o comando no fogareiro; missa acabando, nova “estralada” está por vir. Fumaça branca e cheirosa convida todos ao consumo da mais gostosa das pipocas, as de nossos pipoqueiros. A recepção é una: - Boa noite! O que deseja? E nossos olhos passeiam ininterruptamente sobre as pequenas prateleiras dentro do carrinho: pirulito, chupe-chupe, chicletes, hiô-hiô, máscaras, amendoim, “Maria mole”, torrone, paçoquinha e, tempos atrás, pedaços de pudim caseiro. A praça em que “meninamos”, era cheia deles. Algodão-doce, pipocas, raspadinhas... E agora?
                       
Ponciano Ceregatti
Esta hora que nos acontece, ainda sobrevive aos dias modernos de hoje, falo do Sr. Ponciano Ceregatti. É descendente de italianos e nasceu no dia vinte e dois de outubro de 1937, na cidade de Jaci – SP. Aportou por essas terras do Jataí, mais precisamente no “Córgo do Meio” (afluente existente no bairro sendo ponto de divisas e demarcação do local) bairro de Ecatú, no ano de 1973, vindo posteriormente para à cidade assim que contraiu matrimônio com a sua primeira esposa, a Sra. Aparecida Barradas. É católico.
                        Após o falecimento de sua esposa, contraiu segunda núpcias com a Sra. Eloiza Trindade, sua companheira na lida. Seu Ponciano, é gente boa toda vida, gosta de uma prosa e aprecia uma boa moda caipira sustentada por uma sanfona de cento e vinte baixos; gosta de leitura como ninguém.  
                       
Esculturas realizadas por Ponciano
É um artista completo, simples. Expressa o primitivismo em suas obras. É escultor de mão-cheia; suas obras são encantadoras. Retrata o nosso sertão, a vida no campo, o homem sertanejo e o modo simples de viver. É observador fiel de coisas boas e homem bom para prosear. Vale a pena conhecê-lo. Atualmente, reside na Rua Barão do Rio Branco, número 502, centro de Tanabi.
                        Saudemos nossos pipoqueiros de ontem e de hoje: Gonçalo Lopes, Ana Maria de Jesus (Bilica), “Mané” do cavaco, Dorival, Antônio Brajato, “Lorde”, Edgar, Jesus, Eloiza Trindade, Antônio, José Panta, Nelson (algodão-doce), Goiano (raspadinha), Dorival Pessoa, Valdomiro Montrezor, Antônio Manzani (déc. de 30 e 40), Laudelino, Antônio “Manco”, “Tonha”, Nica “tonta”, Bila...
Deus vos abençoe sempre.
“Rebenta pipoca, Maria sororóca, rebenta pipoca, Maria sororóca...”


                                                                                  Tanabi, 20 de fevereiro de 2013.

                                                                                            Terso Marcel Mazza

Nossas Locutoras
              
                          Aos vinte e oito dias do mês de setembro do ano de mil novecentos e quarenta e sete, era inaugurada em Tanabi a nossa emissora de rádio, a ZYM4. Atualmente, rádio Clube de Tanabi. Tempos românticos em que se mandavam dedicatórias musicais para a pessoa amada. Antes da ZYM4, tínhamos um alto falante que reproduzia através de discos de vinis, notícias da guerra e do governo federal.
                        O progresso aqui chegou e junto dele, o sucesso da informação; tecnologia de ponta com transformadores a válvulas eram o topo na modernidade radiofônica. Rádios modernos, perfilados em madeira de lei com vidros bizotes ou bombê eram a elegância em cima de um móvel qualquer na sala ou na cozinha. Com 100 wats de potência na antena, a ZYM4 era ouvida e apreciada numa vasta região que chegava a abranger os estados vizinhos de Minas e Mato Grosso. Notícias esportivas, sociais, políticas...
                        Tempos das valsas modernas na voz de Francisco Petrônio, tangos, boleros, chá-chá-chá; ritmos mexicanos, franceses, paraguaios... Muitos foram os programas apresentados em nossa emissora, a ZYM4.
                       
Neuza Aparecida de Oliveira
Contudo, surge a figura ilustre de uma mulher de voz romântica e sublime. Eis que apresentamos a Neuza Aparecida de Oliveira, conhecida como Neuza de Oliveira, a nossa locutora. Descendente de escravos vindos da África (Moçambique), sua história é linda, um tanto emocionante. Seus bisavós e avós eram escravos legítimos. Sua bisavó, sendo uma escrava bonita e meiga, de corpo esculpido pela natureza, era obrigada a servir sexualmente ao então senhor de engenho, seu dono, que por sua vez, acabou engravidando dele. Mais tarde, a família chegou a obter a carta de alforria. Portanto, adquiriu sangue português, que era a origem do então senhor de engenho.
                        Neuza nasceu no dia vinte de maio do ano de 1940, na cidade de Mirassolândia – SP e mudou-se para Tanabi no mês de janeiro do ano de 1948. Logo, aos doze anos de idade, foi trabalhar na livraria “Brasil” de propriedade do Dr. Luiz Gonzaga. Posteriormente, passou a trabalhar no “Cine Rio Branco”, de propriedade da família Polacchini em que a gerência ficava a cargo do Sr. Hermes Pifer. Lá, trabalhou na bombonière do cinema. Neuza de Oliveira é católica. Tradicionalista em coisas boas e de qualidades, ainda mais quando se fala em música. É uma enciclopédia musical.
                        Entrou para a ZYM4 para nela, fazer brilhante careira como locutora e prestar relevantes serviços ao povo de Tanabi e toda a região. Conheceu o Sr. Ayrton Pires Domingues e, dessa amizade, renderam bons frutos.
                        Atuou em diversas programações da emissora e conheceu de tudo um pouco. Foi ancora de muitos programas dentre eles, alguns musicais: “Para mim, para você”, “Seu artista favorito”, “Sociais M4”, “Desfile de Orquestras”, “Canta o México”, “Melodias Favoritas” e tantos outros que a memória não resgata mais. É critica musical e tem bom gosto, ouve música romântica, música de raiz, e se encanta ao ouvir um som de uma orquestra. Foram trinta e nove anos levando bom gosto na locução através de seus programas.
                        Atualmente, esbanja elegância e carisma por onde passa. É mulher batalhadora e simples. Reside na Rua Nove de julho, número 254, fundos. Quando se quer qualidade musical, vale a pena conversar com a nossa locutora Neuza de Oliveira. Saudemos nossas locutoras: Maria do Carmo Silva, Carmozina, Mara Pretel, Rose Vieira, Maria Locateli, Geni de Oliveira, Santa, Geny Garcia, Dra. Elta Lily Cerqueira de Lima Santana...
                        Deus vos abençoe sempre.

                                                                                               Tanabi, 26 de fevereiro de 2013
                                                                                                       Terso Marcel Mazza

Nossos Mecânicos

                    Tanabi pequenina em meio a dois regatos ainda crescia no século passado; sendo conhecida como boca do sertão. Cidade aflorando em meio ás matas virgens e população crescente. Carros-de-bois, mulas, burros e cavalos, eram o meio popular e habitual de transporte. Lugar distante e, ao mesmo tempo, parada obrigatória de viajantes e tropeiros que passavam pela estrada “Boiadeira”- “Tabuado”, única via de transporte por essas bandas. O transporte era precário, quase nem existia. Tudo era feito no lombo de animal. Carro-de-boi era sofisticação e havia poucos naquela época. Carrinhos e charretes estavam por vir, havia poucos e, os que tinham, era novidade.  
                        O primeiro automóvel que trafegou na cidade de Tanabi, veio no ano de 1915, vindo pela estrada “boiadeira”. Pertenceu ao fazendeiro João Alves Monteiro (*08/03/1872 +27/11/1949), irmão do então Cel. Militão Alves Monteiro. No dia dezesseis de agosto do ano de 1925, correm as primeiras jardineiras em Tanabi. O primeiro trator que adentrou ao município foi na década de 30, adquirido por Lázaro Alves Ferreira. Não demorou e vieram os “fordinhos 29”, com motores de arranque iniciados por manivela e limpadores do para-brisa, manual. Seta, nem pensar. Luxo e admiração para a época. Com isso, surge os nossos mecânicos, raridade em toda região.  
                       
Luiz Páttaro
(Dídio)
Apresentamos o seu “Dídio” – Luiz Páttaro. Nasceu no dia primeiro de novembro do ano de 1919, na cidade de São Jorge de Lipértique, província Di Padova (região do Vêneto), Itália. Veio para o Brasil no ano de 1921, prestes a completar três anos de idade. O destino foi à cidade de Igarapava-SP. Ali, permaneceu pouco tempo, mudando-se novamente, desta vez, para a Argentina onde ficaram algum tempo e voltaram para o Brasil com destino na cidade de Viradouro-SP. Seu pai lutou na primeira guerra mundial nos anos de 1914/1918, viu muitos de seus amigos morrerem ao seu lado. O motivo de sua vinda para o Brasil foi uma promessa que ele (pai) fez. Se tivesse mais um filho homem, viria para o Brasil. Não queria sofrimento para o filho; medo de guerra. 
                        No final do ano de 1933, seu “Dídio”, muda para Tanabi. Foi para o campo e, no ano de 1936, no auge de seus dezesseis anos, começa a aprender o ofício de mecânica com o Sr. Vergílio Creazzo. A oficina ficava ao lado do posto de gasolina (atualmente Auto Posto 96) que era de propriedade do Sr. Felipe Torres. A oficina ficava de fronte o atual paço municipal. Depois, foi trabalhar na oficina do seu Mário Molon e posteriormente na oficina do seu Alberto Mazza, antigo posto Esso e, ali, ficou até abrir seu próprio negócio.
                        Sua memória está em estado de graça, é lúcido. Diz ele: “quando aqui mudei, na Vila Tomaz só havia três casinhas”. É católico. Trabalhou como mecânico quase cinquenta anos. Fez de tudo um pouco, foi “clinico geral” na mecânica. É grande conhecedor de modelos e marcas antigas: Ford 29, Chevrolet, Jipe, Wilis, Maverick, Morgan, Rolls Royce, Fords V8, Mercedes, Classic, Sinca, Fenemê, Decavê, Romizeta... Em meio às porcas, arruelas, anéis, pistões e induzidos, soube levar a vida e o oficio com dignidade e muito trabalho. Diga-se de passagem, um mecânico de mão-cheia e experiente na ferramentaria.
                        Atualmente, reside na Rua Sete de Setembro, número 509. Gosta de prosear e é bem quisto na vizinhança. Em seu nome, saudamos os nossos mecânicos de ontem e de hoje: Virgilio Creazo (déc. de 20), Aparecido de Aguinir (Déc, de 30), Luiz Longo e José Dari (Déc, de 40), José Barroso Molina (o almoxarifado municipal leva seu nome),“Veloso”, “Tim”, Irmãos Pivaro, Pedro, Oscar Lorenção (pardal), Antônio Cardoso, “Dú”, Irmãos Silveira, Alcides Scrignoli, “Beto” Scrignolli, José, Marciano, Orácio Duó, “Mi” Galvani, Wilson Gonçalves (Birigui), Valdecir Ramires Gonçalves, “Taturana”, Luiz Longo Neto, Benedito Lorenção, Ico Nardez, “Guigo” Caparroz, “Pirilo”, “Rosa Além”, Oalus, Irmãos Poloto, Pedro Sam Miguel, Leonardo Góis (gerente), “Tonhão”, Beníquio, Milton Nardez, Onório Longo, “Dóca”, Henrique de Biazzi..            A todos, as nossas homenagens. Deus vos abençoe sempre.


                                                                                      Tanabi, 05 de março de 2013.
                                                                                            Terso Marcel Mazza

Nossas Parteiras


                      Tanabi antiga, início do século vinte, onde o atendimento médico quase não existia. Por aqui, nem se falava e, muito menos conhecia a tal de cesariana ou médico ginecologista; nem existia. Havia sim, as nossas parteiras, “médicas” práticas por vocação.
                        Mulheres simples e com grande conhecimento na área, era as nossas parteiras. Como toda “entendida”, tinha os seus recursos sobrenaturais e cada qual, seu jeito e maneira para conduzir o trabalho de parto. Era comum vê-las pelas estradas municipais, cortando de norte a sul e leste a oeste, toda a nossa região. Geralmente, em cima de carro de bois, carroças, mulas, cavalos, charretes e mais tarde, automóveis. Junto delas, uma trouxa com um arsenal botânico em ervas e várias orações na mente, para cara tipo de parto.
                        Criaturas enviadas por Deus, assim eram conhecidas. Chegando a residência da parturiente, logo assumia o comando da casa e todos se punham a sua disposição. La dentro, somente senhoras experientes. Homens e crianças, do lado de fora aguardavam com entusiasmo o grito de independência do nascituro. Homem ou mulher? Eis a questão. Ai da criança, que perguntasse o que estava acontecendo.
                        De inicio, um exame “clínico” era feito na paciente e, logo após, começava-se a movimentação e os preparativos do ritual. Os movimentos eram em torno da cama, do quarto para a cozinha e vice versa. Bacia, toalhas brancas de algodão, barbante e, uma navalha desinfetada com querosene ou álcool era os instrumentos necessários para um bom parto. Fogão a lenha a todo vapor para esquentar a água que seria usada no trabalho.
                        Nos partos mais demorados, uma toalha de mesa em volta da cintura da parturiente, auxiliava na descida da criança quando não, insistentes banhos de acento, eram feitos. Para os partos complicados, toda a família era convocada para as orações e aclamações ao Nosso Senhor do Bom Parto ou São Bartolomeu.
                        Chegado o grande momento, o cordão umbilical era cortado a três dedos acima da inserção e o sexo da criança era proclamado para toda a família que esperava do lado de fora. Se fosse mulher, o cordão umbilical era enterrado ao redor da casa. Assim sendo, acreditava-se que ela sairia uma mulher caseira, amante dos serviços domésticos. Se homem fosse, o cordão era enterrado no esteio do curral; na entrada do mangueirão de porcos ou no caminho do roçado, para que saísse trabalhador.
                       
Ida Olivatto Targa
Contudo, apresentamos a figura da senhora Ida Olivato Targa. Matriarca da família Targa na cidade de Tanabi. Nasceu na cidade de São Bernardo do Campo-SP, no dia 18 de agosto de 1895. Casou-se com o Sr. Antônio Targa e tiveram vinte e dois filhos. Moraram na cidade de Mogi Mirim-SP, Presidente Prudente-SP, Uchoa-SP e finalmente, Tanabi. Por estas bandas, chegaram aqui na década de trinta, onde o seu esposo adquiriu um pequeno sítio no bairro das “Peróbas”, que se transformou posteriormente na fazenda “Peróbas” devido a grande extensão de terras que foi se acumulando. Nesta fazenda havia uma plantação de sessenta mil pés de jabuticabas que começava aonde é o atual prédio do Fórum e se estendia bairro à dentro. A sede da fazenda ficava onde atualmente é conhecido como sendo o sítio do “Macedo”, sentido clube da “Justiça”.
                       
Sra. Ida e seu esposo Antônio Targa
Dona Ida era católica e descendente de italianos. Foi parteira e trouxe ao mundo muitos tanabienses que ainda vivem o dia-dia desta cidade. Faleceu no dia treze de janeiro do ano de 1966, às 5h e 30 da manhã, vítima de insuficiência cardíaca congestiva. Está sepultada no cemitério central de Tanabi sob o jazigo de número 2913 – perpétuo. Residia na Rua Cel. Militão Alves Monteiro, esquina com a Rua Polenice Celeri, número 395.
                        Saudemos as nossas parteiras: Encarnação Moreno Versuti, Dona Benedita e Maria Paulista... Em suas homenagens, temos a “Avenida Encarnação Moreno Versuti” e “Rua Maria Paulista.”
                        Ainda há muitos tanabienses que possuem netos e bisnetos e que vieram ao mundo pelas mãos de nossas parteiras. Foram mulheres santas, praticaram o amor, caridade e exerceram a vocação com plenitude. Que Deus as tenha em vossos braços. Amém.

                                                                                     Tanabi, 13 de março de 2013
                                                                                           Terso Marcel Mazza

Nossos 'Saqueiros'
                         
                        ...Tanabi e suas máquinas de beneficiar. Século passado. A então Rua Jorge Tabachi, conhecida como sendo a rua das máquinas, abrigava enormes e importantes máquinas de beneficiar café e arroz. Nela, havia a máquina do Sr. João Rodrigues Aguilar, João Meneghetti (máquina “São João”), Angêlo Vendramini, irmãos Tabachi, Marão Elias Marão – Marão Café Ltda (atualmente, terreno vago), Diogo Carmona (atualmente “Bar do Divino”) e tantas outras espalhadas pelo município; as máquinas dos senhores Bernardo Osório Braojos – máquina N. S. de Fátima (atualmente igreja), José Barradas, Eduardo Munhoz (cafeeira Super Santos), Jair Monteiro (atual Agropet), Pedro Benevente – máquina N. S. Aparedica (atual Corpo de Bombeiros), Arlindo Silvestre, Cafeeira Bandeirante, Antonio Munhoz depois Modesto Casagrande e por último, irmãos Escriboni (Vila Tomaz), Jesus Benfatti e Pedro Avanço (Máquina São Vicente), Irmãos Cabrera (Vila Tomaz), Aparecido Perussi (Ibiporanga), Sevilha (atualmente “Point da Costela”), Sarkis Chain e outras de pequeno porte pertencentes às grandes fazendas.
                        O cheiro do café verde e beneficiado desapareceu, e com ele, nossos “saqueiros”. Homens fortes que tinham habilidades com a sacaria. Trabalhavam incansavelmente em nossas máquinas e demais indústrias de Tanabi. Em franca atividade, a máquina do “Marão” chegou a trabalhar vinte e quatro horas por dia e, com ela, os nossos “saqueiros”. O porto de Santos esperava o nosso café. Tempo de riqueza e dinheiro à vista guardado no grande e suntuoso cofre que ali tinha. O nosso asfalto fazia o papel dos grandes terreiros e era utilizado para secar as sementes que vinha da zona rural.
                        Nossos “saqueiros” corriam o dia todo “lombando” sacas de 60 K, pra lá e pra cá, como se fossem uma barca no vai vem das escadas de madeiras, ora subindo, ora descendo. Prática na montagem de um lastro de dez sacas por vinte e cinco de altura. A quantidade variava mês a mês; cerca de vinte e cinco a trinta mil sacas por mês era empilhados. O dia começava as 5h30 da matina e terminava com o sol posto, la no bar do seu João Martins, que ficava ao lado do posto Shell (ponto dos “saqueiros”); ali, era encerrado o dia de trabalho. “Um brinde a saúde universal”.
                        Toda a sacaria que vinha e saia do município ficava por conta deles. Grandes carregamentos de sal e café que vinha pelas linhas férreas e tinha o ponto final na estação de Engº Balduíno; grandes carregamentos de açúcar que abastecia nossa indústria de refrigerantes; mercadorias diversas que eram chamadas de “bagulho” por conter variedades em mercadorias; arroz, milho, algodão, feijão, adubo... Tudo ficava por conta deles, os nossos “saqueiros”. Várias carretas eram carregadas num dia inteiro de trabalho. Numa carreta de três eixos era possível colocar 640 sacas de café contendo 60 K ½ cada um; o destino era o Porto de Santos, empresa Coca-Cola ou destino infinito do nosso Brasil.
                       
Valentim Alves Rodrigues 
Que diga o nosso bom e velho “saqueiro” Valentim Alves Rodrigues. Ele nasceu na cidade de Mirassolândia – SP, no dia onze de janeiro do ano de 1954. É brasileiro e descendente de baianos lá do Juazeiro - BH. Mudou-se para Tanabi com sete anos e foi morar ao lado da extinta “Pensão do Sol”. (Pensão de propriedade do Sr. Firmino Justino da Silva, que ficava na Rua Annita Garibaldi, número 193, atualmente Rua Jorge Tabachi. Digo na Déc de 30). É católico.
                        Trabalhou na “Casa Cardoso” como ajudante de mecânico; entregador na “Casas Benfatti” e posteriormente na empresa “Arco-Íris”, (na produção, caldeira e passou para o departamento de entrega). Deixou os serviços fixos e foi trabalhar nas máquinas de benefícios e demais empresas como “saqueiro”. Lembra ele: “Nós ‘saqueiros’, chegávamos a ganhar um salário mínimo correspondente ao da época, por dia, de tanto trabalho que havia naquele tempo. Tenho muitas saudades e recordações”. Atualmente, este ofício foi substituído pelas empilhadeiras e esteiras. Valentim reside na Rua Manoel Ramires Duarte, número 101, bairro Ary Terra Sócio.
                       
Ultima máquina de beneficiar arroz
que ainda existe no município. Está
desativada.
Saudemos nossos “saqueiros”: “Saracura”, “Tico”, “Batista”, “Tunin Branco”, “Benu”, “Nogueira”, Dorcelino, “Tonhão”, Joaquim, Alcides, Valdomiro, Carlos, Andrélino, “Zézão Preto”, “Santo”, Altino, “Sapo”, Valter, “Maná”, “Durão”, “Cipó”, Laurindo, Clarindo, Jorge, Messias “Preto”, Miguel, Sebastião, Agenor, Adão, Nelson, Getúlio, “Isa”, “Guercindo”, “Carboré”, Pedro Violin, “Zezão do Nascimento”, “Cido”, “Tião”, Antônio “Manco”, “Gato”, “Mazarópi”, “Mané da Carne”, “Durão”, “Testinha”, Alceu, Minervino...
                        Vocês contribuíram para a economia e o crescimento de Tanabi. Deus vos abençoe.

                                                                                               Tanabi, 20 de março de 2013

                                                                                                    Terso Marcel Mazza


Nossos Borracheiros


                  Tecnologia” do século passado surgia no sertão tanabiense. Carroças com rodas de madeira e carroção traçado com bois eram substituídos aos poucos por pneus de borracha e câmara de ar. O primeiro veículo que adentrou nesta cidade, foi no ano de 1915. Mas, a lida de borracheiro surgiu bem depois. Nesta época, os pneus eram de borracha maciça e alguns veículos tinham suas rodas de madeira, envolvidas por borracha maciça. Passado o tempo, começa aparecer os nossos borracheiros, “mantenedores” de sucesso que viviam e vivem de plantão vinte e quatro horas no dia, para atender a necessidade automobilística. Afinal, o veículo não podia e não pode parar.    
            Tempo em que não havia macaco hidráulico e a calibragem era feita no tato. Nossas borracharias pareciam ser franquias; todas elas se identificavam pelo jeito e o modo na organização. Tudo a mesma coisa.
            Equipadas de grandes martelos e marretas, uma banheira que um dia foi branca, enfeitava o local num canto qualquer. Para dar o contraste, um grande e enorme compressor vermelho impunha respeito pelo seu tamanho. O poder econômico da borracharia media-se pelo tamanho do compressor – po-po-po-po-po. Normalmente de marcas americana e russa.
            Tempo também em que a borracharia era conhecida por suas mulheres famosas através de seus cartazes. Muitas vezes, as paredes ostentavam grandes e lindos calendários com belas e lindas mulheres. Eis que começava o mês, e novo pôster era esperado. Havia todo o tipo de musas: morenas, loiras, negras... Ao gosto do freguês.
            Numa pilha de pneus qualquer, um jornal noticiando o esporte do dia era marcado com impressões digitais devido à concentração de pó que havia no lugar. Todo mundo lia.
            Em dias comuns de trabalho, o estouro anunciava mais um serviço terminado, era a câmara que se ajeitava no pneu, bum!
           
Domingos Marcelino Mendes
(Domingos borracheiro)
Contudo, surge o ilustre personagem Domingos Marcelino Mendes, o “Domingos Borracheiro”. Nasceu no dia primeiro de novembro do ano de 1936, na cidade de Palestina-SP. É descendente de mineiros, lá de Águas do Lambari, divisa com a Bahia. É católico.
            Mudou-se para Tanabi no ano de 1965 e, em 1967, montou sua borracharia e trabalha até hoje incansavelmente desde manhãzinha à boca da noite. É bom entendedor no ramo e administra um pneu de caminhão Chevrolet e Alfa Romeo com maestria. Pena que esses caminhões quase nem existe mais.
            Atualmente, reside na Rua Pedro Ovídio, número 38, centro de Tanabi.
            Saudemos nossos borracheiros: Cláudio, José, “Chico”, “Patinho”, “Borracha”, Elton Batelo, “Chico Borracheiro”, “Chico Macaco”, Edinho, Adilson... Fica a nossa eterna gratidão do povo desta comuna. Deus vos abençoe sempre.

                                                                                                       Tanabi, abril de 2013   
                                                                                                       Terso Marcel Mazza


Nossos 'furadores' de poços e fossas

              Tanabi dos potes de barros, canecas de ferro agate. Toda casa tinha sua cantoneira e em cima dela, o pote. Água fresca! Um povoado sempre se forma perto de um afluente. Anteriormente, a captação de água era feita nos riachos e através de cisternas caseiras perfuradas pelo próprio homem.
            Toda casa tinha um poço e uma fossa. Água e esgoto encanado, nem pensar, só no início da década de 50. Tempo de sarilho e cordas de sizal, balde confeccionado de folha de zinco e adquirido na venda do seu Sadala, Vendramini, Vespasiano ou nas ferrarias da cidade. A limpeza de uma casa se via através do poço. Tinha que estar muito bem encerado e brilhando. O sarilho era engraxado com sabão caseiro. Muitos sarilhos amanheciam cantando nhoque-nhoque-nhoque em busca da água. Fogão a lenha esperava furioso e ardente a água fresca, para exalar o cheiro do café que estava por vir.
            Criança na beira do poço, nem pensar. Ainda mais com a manobra da manivela do sarilho em atividade. Perigo constante seja no poço ou no sarilho. Nem se falava em cadeado. A portinhola era fechada com tramelas de madeira ou um calço qualquer.
            Todo balde tinha um contra peso amarrado nele. Geralmente um pedaço de meia-lua velha (ferramenta utilizada na roça), um martelo velho ou pedaço de ferro qualquer. O motivo era para que o balde afundasse rapidamente e a água viesse á tona.
            E as fossas instaladas no fundo das casas. Toda moça tinha medo de usá-la. A primeira atitude na residência logo pela manhã era arrecadar os penicos para serem esvaziados na fossa. Usar a fossa á noite, nem pensar. E o medo! Rsrs.
            Um poço jamais era perfurado ao lado de uma fossa. Sempre acima ou com uma distancia superior a dez metros quando o terreno era plano, essa era a regra.
            Para isso, havia os nossos “furadores” de poços e fossas.
Octávio Barbato
Falo do senhor Octávio Barbato. Nasceu na cidade de Pindorama - SP, no dia vinte de julho do ano de 1938 e foi registrado no dia dez de agosto do mesmo ano. Residiu em várias cidades e aqui aportou e está até os dias de hoje. Católico, é descendente de italianos – calabrês e napolitano. Filho de lavradores criado na roça, no meio da lavoura.
            Seu Octávio perfurou e entrou em muitos poços de Tanabi e região. Disse ele – “Teve um poço, que quando chegamos na pedra, nós furávamos um palmo por dia de tão dura que era. Em vinte dias, furamos vinte palmos”. Atualmente, reside na Rua Cel. Joaquim de Cunha, número 869, centro de Tanabi. Seu Octávio tem muitas histórias para contar desta época.
            Os poços variavam em sua profundidade de acordo com o local e a região que eram perfurados. Poços de 40,50,80,100 e até 150 palmos. Na gíria, o poço tem suas fases: terra ou areia, pedregulho, piçarra, pedra (pedra ferro) até obter a água. Já nas fossas, a medida era em metros e não em palmos. Não ultrapassava seis metros a fundura de uma fossa. Um poço de qualidade e duradouro deveria ser entijolado para não desbarrancar. Na época de seca é que se fazia a manutenção dos poços, alguns eram rebaixados e limpos. “Naquela época, não faltava serviço”.
            Só no ano de 1951, que é perfurado o primeiro poço artesiano na cidade de Tanabi, nas confluências dos córregos do “Mangue” e do “Bacuri”. A água era extraída por um enorme compressor de marca “Herculis”. A dimensão do poço é de 50 metros de arenito, 18 metros de solo argiloso, e 12 metros de diabásio (pedra ferro). Quem perfurou foi o Srs. João Marioti e Manoel Duarte. No mesmo ano, começa a ser construída a caixa d’água que está na praça Prof. Sílvio Bertoz e começa também a instalação da rede de água sob o comando do Sr. José Longo e do Eng. José Carneiro Viana. A segunda fase foi no bairro da vila Thomaz, ano de 1965.   
            Já no ano de 1954, havia em Tanabi, 400 ligações de rede de água e o consumo diário era de 450.000 mil litros.
            No dia 22 de novembro de 1951, perante o governador Lucas Nogueira Garcez, a prefeitura de Tanabi na pessoa do então prefeito Ary Terra Sóssio, assina o contrato de empréstimo no valor de Cr$ 1.704.613,30, destinado à execução das obras da rede de esgoto de Tanabi. No começo de dezembro do mesmo ano inicia as obras.
            Contudo, saudemos os nossos “furadores” de poços e fossas, grandes trabalhadores deste sertão. Sebastião Paulista, “Chulé”, “Dito Garrancho”, “Sebastião Preto”, João Rodrigues, “Caticó”, “Mister Tiule”, “Lazinho Augusto”, “ Barba Russa”, Ernesto Lorenção, Antônio Calisto de Freitas, Severino Targa, José, Francisco, Pedro...  Deus vos abençoe.   

                                                                                                            Tanabi, maio de 2013      
                                                                                                            Terso Marcel Mazza 

Nossos Bicicleteiros

 
               Tanabi das carroças, carrinhos, charretes e cavalos...
            Outro meio de transporte que aqui chegou, foi á bicicleta. Não sabemos precisar ao certo a primeira que aqui entrou; podemos afirmar que no inicio do século, havia algumas por estas bandas. O Brasil ainda não as fabricava. Eram importadas. Ter uma bicicleta era sinônimo de status; geralmente, filhos de fazendeiros ou industriais é quem as tinham.
            Em meio ao bem móvel, existem os “mecânicos” que dão toda a manutenção necessária para a boa conservação de nossas bicicletas. Falamos de nossos “bicicleteiros”.
            Nos dias de hoje, elas são usadas para a locomoção; haja vista, o horário das 11h00, em que nossas fábricas dão a largada para o sagrado horário de almoço. Podemos observar o trânsito e a “fila indiana” que forma na entrada da cidade. Bicicleta de tudo quanto é tipo, cor e tamanho.
            Tanabi em tempos modernos, já possui uma ciclovia na Av. Diego Carmona. Bicicleta para ciclistas, trabalhadores e para crianças. Que diga a nossa praça João de Mello Macedo nas manhãs de domingos com os pequenos mancebos pra lá e pra cá, na conhecida ponte das pedrinhas. Quantos não deram as suas primeiras pedaladas na praça em que outrora “meninamos”.           
Para tanto, destacamos a figura do senhor Aquila Nissida, conhecido popularmente como sendo o seu “Zé bicicleteiro” . Nasceu na cidade de Pedregulhos - SP, no dia 24 de abril de 1931.  Filho de legítimos Japoneses, seu pai, natural de Kumamoto e, sua mãe, natural de Fulcuoca. É católico. Seus pais se conheceram aqui no Brasil e aqui se casaram. Vindo de uma família de lavradores, trabalhou na roça até os dezesseis anos de idade onde posteriormente foi ser tintureiro e “bicicleteiro”.  Morou nas cidades de Sapucaí, Nuporanga, Votuporanga, Valentim Gentil, Fernandópolis, Monte Aprazível, Tanabi, Cosmorama e novamente mudou-se para Tanabi.
            Seu “Zé” é do tempo das bicicletas Philips, Hércules, Bianchi, Raleigh, Nata, Esquarna, Monark e posteriormente a Calói. Diz ele: -“bicicletas boas mesmo”. Nesta época, não havia marcha, e adereços.
            Trabalhando na lida, no ano de 1974, ficou totalmente cego. Mas mesmo assim, continuou trabalhando. Abria a bicicletaria “São José”, ás sete da manha e fechava às 22h00. Com a sua deficiência, seu tato ficou ainda mais apurado e continuou na labuta, sempre sorrindo para os fregueses. Sempre atendeu a todos que o procurasse. Não tinha sábado e nem domingo.           
Além de bom trabalhador, foi da época em que se podia caçar. Manuseava como ninguém, uma Winchester calibre 22. Bom pescador, pescou e repescou até de baixo d’água.
            Em sua primeira estada em Tanabi, conheceu a Fernanda Ramires Duarte, a nossa popular e querida “Dóca”. Namoraram, noivaram e casaram-se no dia 30 de abril do ano de 1953. Portanto, no ultimo dia trinta, fizeram bodas de diamante e desta união tiveram os filhos: Édna, Donizete e Aluízio. Na oportunidade, cumprimentamos o casal por suas bodas e que Deus possa iluminá-los sempre. Seu “Zé” e dona “Doca” são gente boa toda vida. Atualmente, residem na Rua Cel. Militao, número 948, centro.
            Seu “Zé” não abre mão de sua cadeira de alpendre empalhada com cordinhas vermelhas. Gosta de um bate-papo.
            Saudemos nossos “bicicleteiros”: Domingos Mazzoni (década de 40/50), Glicério (década de 60), “Binão”, Ataíde, Orivaldo, Valdir, “Néno” Márcio, João Tofanelli ...


                                                                                  Tanabi, maio de 2013                                                                                                                                  Terso Marcel Mazza

Nossos Ferreiros forjadores


           Tanabi das “mariquinhas” (suporte de ferro para coar café), toda residência tinha uma; suporte para latas de mantimentos; tacho para fazer sabão, suporte para pendurar xícaras e a famosa bacia de zinco para o banho das crianças...
            Lamparinas, foices, tranca para porteira, abridões para animais, ferraduras, capelinhas de ferro que ficavam embutidas nos alpendres das casas, grades e janelinhas para as portas das residências, em que as iniciais do nome do chefe da família davam a elegância... Tudo parece ter acabado em nome da modernidade. Tempo dos canecões feitos de latas que armazenavam o óleo.
            Ferreiro forjador é aquele que trabalha o ferro na forja, faz do ferro um objeto de arte. Tanabi era cheio deles, muitas oficinas havia na cidade. As rodas e os carros-de-bois eram feito em nossas ferrarias, para tanto, o bom forjador tinha que ter habilidade com a tenaz, com a estampa, bigornia, e boa pontaria na marreta. A forja ficava “viva” em brasas ardentes que eram sustentadas por um enorme fole manual que ficava logo atrás, geralmente no canto da oficina. Veio á modernidade e o fole foi substituído por manivela depois passou a ser elétrico; um avanço para a época.
            Final dos anos 60, as antenas de canos e bambus começam a ser substituídas pelas torres em ferros com alturas de 15,25, até 30 metros dependendo do local. As ferrarias trabalhavam a todo vapor na confecção das antenas, grades para residências... Tudo feito manualmente. 
           
Contudo, surge o bom e estimado Clarindo Roveram que nasceu na fazenda “Fortaleza” no dia doze de agosto do ano de 1936. Foi registrado na cidade de São José do Rio Preto, onde residiu por quatro meses. Filho de “oveiro”; ainda criança começou a vender pipocas naquela cidade. Aos oitos anos, sua família retornou para Tanabi, onde passou a ajudar os seus irmãos na lida de “oveiro”. Aos doze anos foi trabalhar na oficina do Oliveiro Batelo, o saudoso “Bidu”. Lá, aprendeu de tudo um pouco. Logo, montou o seu próprio negócio; aterrou quatro esteios de aroeira, cobriu com telhas francesas, e fechou o local com latas de óleos; pronto, seu barracão estava montado. No ano de 1962, adquiriu a atual oficina (Rua Polenice Celeri, 120, centro) e nela permanece até os dias de hoje.
            Seu Clarindo é do tempo em que não havia solda elétrica. O ferro era unido através de uma placa importada, ás vezes, tinha que acrescentar areia para dar a liga. Exigia muita marretada e força física. Outro meio era o arrebite. Há exemplo, a porta central da igreja matriz do centro, é confeccionada em arrebites e encaixes, uma verdadeira obra de arte. Feita manualmente.  
            Clarindo é católico; descendente de italianos e franceses. É vicentino e por muitos anos cantou no coral paroquial “Santa Cecília”. Além de bom pescador, é um homem simples, cheio de virtudes e humilde, muito colaborou com nossas entidades e o progresso de Tanabi. Sempre esteve à disposição do próximo. Serviu a todos que o procurou.           
        O oficio lhe deixou sequelas irreversíveis. Ficou com problema na audição e na coluna vertebral. Atualmente reside na Rua Jorge Tabachi, número 16, centro de Tanabi. Nos dias atuais, frequenta a oficina que hoje é dirigida por dois de seus filhos.
            Saudemos nossos ferreiros: Ancelmo, “Zico”, Ferucchio Soldo, Carlo Lorenzon, Oliveiro Batello (Bidu), “Cidão”, Juvenal Calisto, José “Bão”, Astolfo, Antônio Garcia Xanes, José Pomponi (Ferraria e Carpintaria Paulista, ano de 1939), Darcy Roveran, João Montrezor, José Antonio Carvalho, Vanderlei Alves de Melo, José Nogaroto, “Zizão”...
            Vocês revelaram-se como seres animados e arrebatadores. A forja cantou em vossas mãos. Homens de habilidades nas mãos, capacidade artística e força física; mais um capítulo de nossa história é contado por vocês. Deus vos abençoe sempre.

                                                                                                          Terso Marcel Mazza
                                                                                                              Junho de 2013


Nossos Pedreiros

           Tanabi antiga. O primeiro prédio de tijolos construído em Tanabi foi o do senhor Dante Celeri, no final do ano de 1800. Logo mais tarde na década de 20, começaram a surgir as grandes olarias, dentre elas, a do João Alves Monteiro que produziu milhares de tijolos para abastecer toda a região.
            Cimento, concreto, ferragens, vergalhões... Nem pensar. Tudo era feito no barro. As casas mais sofisticadas eram “amarradas” com arames farpados. A sustentação ficava sob a responsabilidade do madeiramento (viga) que segurava e travava as paredes através de seus encaixes feitos a enxó e formão.
            No início, tudo era simples e difícil. Nas construções não havia água encanada, fiação elétrica, piso, banheiro e forramento. As construções eram modestas, sem estilo, fachadas simples. Janelas simples de madeira, tramela com arruela; muitas delas com porão; a telha francesa é quem dava o toque final.            
Vamos falar de um homem de um metro e oitenta e um, com pequena inclinação; chapéu de feltro na cor marrom e companheiro da nossa Cel. Militão no dia-dia. Ele se chama Maximiliano Menegasso. Nasceu na cidade de Bálsamo no dia vinte e cinco de junho de 1930. Morava na fazenda Peróbas pertencente àquela cidade. Trabalhava na roça, foi peão e “camarada de fazenda”.
            Com vinte e cinco anos de idade mudou-se para Tanabi e, aqui, começou a aprender o ofício de pedreiro ao lado do seu irmão. Como bom filho de italianos, logo pegou o jeito e o traquejo do ofício. É católico. Casou-se com dona Amélia Menegasso e tiveram os filhos: Valter, Mauro, Vera e Emílio (falecido).
            Como pedreiro, seu Maximiliano tem e teve uma visão perfeita na esquadria, medida e demais cálculos ligados à construção civil; é um engenheiro prático perfeito, completo e impecável. Construiu e  participou de várias construções importantes em Tanabi: piscina (grande) e o primeiro salão do Clube dos Tangarás, A.P.A.E, a A.B.B, escola do bairro de Ecatú e Peróbas além de centenas de casas e prédios comerciais.
            Muitos dos pedreiros que trabalham hoje, aprenderam com ele. O ofício lhe deixou algumas sequelas dentre elas, problemas na coluna, audição e falta das digitais que foram corroídas pelo cimento e o cal.
            Seu Maximiliano é do tempo em que não havia máquinas. O cimento era amassado e misturado manualmente, o madeiramento era cortado no serrote e furado com o arco de pua, a areia para o reboco vinha de nossas estradas municipais...
Atualmente, o homem de voz mansa circula em nossa Cel. Militão no bate papo com os amigos. É gente boa toda vida, “pra lá de metro”. Atualmente reside na Rua José Vargas, número 252, centro de Tanabi.
Em seu nome, saudamos nossos pedreiros: Ludovico Batáglia e Adolfo Honório (final do ano de 1800), João Cassiano, Pascoal Antoneli, João Vargas Filho, Francisco Bília,  Benedito Passos Nogueira (Dito Comunista), Ramiro Nicolau Ferreira, Ricardo Dorna, Loriano Perobeli Ferreira (o “Dengo” da Banda de música), Nicolau Ferreira e irmãos, José Zanforlin, irmãos Góis, Irmãos Benevente, José Vever, Joanim Guerche Filho, José Campanhola e irmãos, Jair, Leonildo, José Moisés, Benedito, Antônio, Natalino Galvani e família, José Fracasso, Nei Duó, “Pacheco”, Alcides, Ávila e irmãos, Roberto, “Carrion”... Deus vos abençoe sempre.

                                                                                                          Tanabi, junho de 2013  
                                                                                                           Terso Marcel Mazza


Nossos Tipógrafos

           O primeiro registro de maquinário gráfico em Tanabi é do ano de 1925. Assim começa nossa história neste tema. Anteriormente tudo era feito na cidade de São José do Rio Preto e São Paulo. Em Tanabi, a tipografia foi responsável pela chegada e desenvolvimento da imprensa local e regional naquela época.
            Tempo em que não se falava em dar um layot de página ou digitalização; coisa para o futuro, final do século XX.
            A tipografia foi o clássico da escrita mecânica em tempos antigos. Dava o toque e essência na impressão: convites de casamentos com tipos em estilo inglês e gótico, cartazes (“grandiosas quermesses...”) e demais informações impressas em tabloides de vários tamanhos.
Cartaz - ano de 1933
            Quantos talões de notas, recibos, promissórias, receituários, panfletos e convites, não foram feitos por nossas gráficas e nossos tipógrafos.  Tempos difíceis em que para adquirir o tipo (letra confeccionada em chumbo) tinha que ir até a capital paulista. O clichê (peça para impressão de fotos) era muito caro. Só quem tinha condições financeiras é quem publicava suas escritas com fotos de casamento, nascimento, falecimento... A arte para tal finalidade era muito cara. Privilégio para poucos. Tanabi chegou a ter quatro gráficas. Atualmente, só temos uma.
            A tipografia em Tanabi foi de fundamental importância. E com ela, apresentamos o José Luiz Pereira, o “Zé da Gráfica da Shirle”.
           
José Luiz Pereira
Nasceu no dia quatorze de dezembro do ano de 1952 na cidade de Mirassolandia. É católico. Descendente de português e italiano. No auge de seus quatro anos seus pais mudaram para Tanabi.  Aos quatorze foi trabalhar na gráfica “O Município”. Lá, foi encadernador, entregador de jornais; trabalhou na guilhotina, fez de tudo um pouco até que aprendeu a compor os tipos e trabalhar com o compolidor (instrumento para a feitura das linhas de tipo). Logo foi para as máquinas e nelas saiu-se muito bem. Deu um bom tipógrafo.
            “Zé” é do tempo do tipo, lino tipo, off set, e alcançou as modernas impressoras a laser. Trabalhou com máquinas manuais, semiautomática e automática; é bom entendedor no assunto. Diz ele que gosta muito da sua “Catu”, “Minerva” (marca de máquinas), mas confessa que a tecnologia veio para ajudar e contribuir. “Hoje temos máquinas para dobrar papel”.
            No ano de 1978, adquire em sociedade o seu próprio estabelecimento. Está em franca atividade e ainda usa as suas máquinas antigas no seu trabalho. “Nada melhor que as antigas máquinas para vincar um convite de casamento, eles ficam perfeitos”.
            José Luiz reside na Rua Guilherme Fontana número 675, centro de Tanabi. É uma pessoa que muito contribui e contribui com as nossas entidades e com a cidade de Tanabi.
            Saudemos nossos tipógrafos: José Batista de Carvalho (déc. de 20); José Augusto Bartolo e Augusto Abufares (ano de 1925), Benedito Fernandes Sampaio (ano de 1927), Militino Barbosa (déc. 30 e 40), Basileu Fernandes Sampaio, João Baptista Ribeiro Filho, Egydio Bacalá, José Arimatéia Corrêa, Armando Facincani, Elza Facincani, Lázaro Bruno da Silva, Carmo Aluísio do Castro, Waldir de Mello Carvalho, José Corrêa, João Rodrigues Batista, Italino Alderigi Cuoghi (diretor proprietário do jornal “O Município” de Tanabi), Abelardo Evangelista Neves, Jesus Muniz, José Laurindo, Benedito Rocha Corte, Ademélio José Targa, Sônia Aparecida Martins, Waldir Contreva, Antônio Renato Contreva, Carlos Roberto Antunes, Claudenir Cesar Martins, Alfredo Júlio Guirro Filho, Silas de Souza, Geraldo Mangela Matos, Claudiovando Cezar Martins, José Corréa, Elza Rodrigues, Shirlei Colombo, Antônio Carvalho, Celso Muniz, “Canezin”, Marcos “lambari”... Que Deus abençoes a todos vocês. Amém!

                                                                                                          Terso M. Mazza
                                                                                                 Julho de 2013    

Nossos Calheiros

               Nos primórdios das construções civis em Tanabi, início do séc. XX, não se usava calhas para a captação da água. As construções eram simples. Até então, telhados com uma ou duas águas. Não havia recorte no telhado e os terrenos eram grandes; “uma casa aqui, outra lá diante”. 
            Com a modernidade nas construções, avanço arquitetônico europeu chegando, as calhas começam a tomar parte no cenário, seja na captação de água, arremate e ornamentação. De início surgem as calhas em V, depois, as calhas coloniais, os rufos e as platibandas. Para o designer e decoração, surge a ornamentação e decoração com as calhas.  
            Em Tanabi ainda existem algumas residências que possuem trabalhos artísticos feitos por nossos “calheiros”. Casas da década de 40 e 50.

            Em outros tempos, a procura por esse tipo de serviço era grande. Poucos eram os que tinham habilidade para lidar com a dobra da chapa de zinco (material usado nas calhas).
            Não existe pessoa melhor para dizer algo a respeito senão o nosso tanabiense Joaquim “Goteira”.
Alguém o conhece? Teremos o prazer em apresentá-lo. Ele se chama Joaquim Aparecido Ataíde. Nasceu no dia dezesseis de outubro do ano de 1933, entre os bairros de Ecatú e Rincão, na propriedade rural da família Braga. É descendente de mineiros. Católico.
           
Começou a trabalhar aos onze anos na ferraria e carpintaria “Lorenzon & Soldo” de propriedade dos saudosos Ferruccio Soldo e Lorenzon Carlo, “italianada” que muito contribuíram também para o crescimento desta terra. Lá, aprendeu de tudo um pouco. Mas escolheu o ramo de calhas. Seu Joaquim é de um tempo em que o lixo de Tanabi era captado por carroças puxado com burros; tempo em que a jardineira dos Violin levava três horas para vir do bairro Rincão ao centro de Tanabi.
            Todo a serviço era feito de forma artesanal, com as mãos. Muito trabalho. A dobra das calhas tinha que ser perfeito e na medida certa, senão, corria o risco de perder todo o material. Todo cuidado era pouco, o corte podia ser fatal haja vista que o material é altamente cortante.  
            Joaquim “Goteira” é conhecido carinhosamente pelo seu trabalho; é um exímio profissional naquilo que faz. É do tempo das coifas, chaminés em estilo chapéu chinês, calha colonial, das pombinhas de ferro dando o arremate na arquitetura. Tempo dos grandes tubos feitos de latas para as máquinas de café e arroz. Tempo das grandes tampas de caixa d’água...
            No auge de seus quase oitenta anos, ainda está na ativa e trabalha como ninguém. Possui o diploma da experiência e vivencia do ofício. É sábio no assunto. Ainda anda sobre os telhados dessa terra de Tanabi, é um verdadeiro equilibrista a céu aberto. Na prosa, o seu tom de voz alcança um baixo musical profundo e não abre mão do seu “amigo”, o cigarro. Reside na Rua Cap. Daniel da Cunha Morais, número 153, centro de Tanabi.
            Na pessoa do saudoso Alcides Borim – in memoriam, saudemos todos os “calheiros” de ontem, hoje e sempre. Deus vos abençoe sempre.
                                                                                                                      Tanabi, agosto de 2013
                                                                                                                        Terso Marcel Mazza



Nossos Doceiros 

            Houve um tempo que todo quintal de Tanabi tinha um pé de figo, cidra, laranja... E uma bela parreira de uva; frutas em geral. Ao lado da parreira, um forno “caipira” que quando adormecido servia de ninho para as galinhas carijós botarem seus ovos. Amarrado nela, um cachorro vira-latas, branco e preto com o nome de Berlim.
            Fartura em tudo e de tudo.  Toda casa tinha uma compota de doce para ser degustado após as refeições. Tempos dos tachos de cobre, fogão a lenha, colher de pau, pilão, panos brancos quarados, ralos feitos de latas; tudo feito de forma artesanal e com capricho. Nesses tempos, o diabetes e o colesterol não faziam parte do cotidiano. Ainda eram desconhecidos pela medicina atual.
            As receitas e o modo de feitura dos doces vinham de nossas avós, para muitas, “segredo de família”. Tinham também os doceiros (as) que iam de porta em porta oferecer as guloseimas tentadoras: doce de figo, abóbora, leite, bananada, cidra, mamão, laranja e frutas cristalizadas.           
Sr. Otacílio - In memorian
Vamos lembrar do nosso “Tacilão” e sua belina corcel de cor verde. Seu Otacílio Feitosa nasceu no dia quinze de julho do ano de 1934, na cidade de Frutal-MG. Não tem descendência estrangeira, é brasileiro de puro sangue, é mineiro de dizer “uai”, tem história e é legítimo. Aportou por estas bandas no início dos anos 50. Consigo trouxe as receitas de sua família onde posteriormente juntou as de sua sogra. É católico fervoroso.
            Como bom doceiro, seus doces eram postos à venda no ponto perfeito para degustar. Inconfundíveis e irresistíveis. Tempo em que os latões cheios de doces vinham na traseira de seu veículo; na rua, um perfume encantador.
            Balança “de braço” e prato feito em lata batida, em que se apoiavam nas correntes brilhantes da balança. “Um quilo, meio quilo, a senhora quem manda”. Tempos das louças e pirex de porcelanas. Tudo era servido de forma natural através das conchas metálicas e polidas. De vez em quando, um queijo sobressaia no meio dos doces. Um quilo disso ou daquilo. – Seu Tacílio! Espere! E a ordem era obedecia à risca.
            Foi presidente do Lar de Crianças, é vicentino, membro da Irmandade do Santíssimo, ministro da eucaristia e muito colaborou com a Santa Casa de Tanabi sendo membro de sua diretoria por vários mandatos. Praticou a caridade como manda o “figurino”.
            Foram mais de trinta anos a beira de um tacho fazendo doces caseiros; muita dedicação e carinho para com seus fregueses, seus eternos seguidores. Infelizmente no ano de 2012, foi acometido de um AVC que o invalidou para o trabalho artesanal no fabrico de seus doces. Disso tudo, ficaram as lembranças e a saudade de uma Tanabi antiga; tempo em que a comadres se reuniam num bate-papo em torno de bolachas de maisena, palitos franceses, chá e uma bela travessa de doce.
            Atualmente, seu Otacílio reside na Rua Barão do Rio Branco, número 661, centro de Tanabi. Na pessoa da saudosa Clotilde Bília (doceira in memorian), ficam os nossos cumprimentos àqueles que fizeram paçocas, geleias, rosquinhas, pirulitos de açúcar queimado, jujus, suspiros... Foram a alegria da molecada em tempos de outrora. Deus vos abençoe.  
                                                                                                                      Tanabi, agosto de 2013
                                                                                                                        Terso Marcel Mazza
Nossos Toureiros 

                Tanabi ainda menina se desenvolvia e quase nada havia para a diversão dos seus moradores. Lugar distante e sendo conhecida como sendo boca do sertão, o entretenimento ficava por conta de sua gente ou alguns circos theatros que passavam de vez em quando. No dia-dia, era a própria comunidade quem fazia e organizava os festejos e entretenimentos ao redor da praça da matriz, atualmente rodoviária municipal.
            Grandes boiadas vindas do Mato Grosso passavam por estas bandas. Devido a grande quantidade de bois, sempre um animal se desgarrava e saltava fora da boiada. Os instrutores e chefes da boiada não podiam jamais acudir um animal e deixar duzentos, quinhentos, oitocentos, mil e trezentos bois... desamparados; caso acontecesse, poderiam correr o risco de a boiada se desfazer em meio ao enorme pasto que somente o horizonte podia determiná-lo sua extensão.
            A única forma de agregar o gado novamente junto á boiada era através de nossos boiadeiros que na maioria das vezes ficavam apreciando o lindo e belo “desfile” de bois e vacas gordas que por aqui passava.
            De uma forma “maestral” nossos boiadeiros toureavam o gado extraviado até que pudessem introduzi-lo novamente junto a boiada. Em contra partida, o premio por tal atitude era uma novilha ou bezerro que acabava de nascer no meio da boiada e, certamente não aguentaria o trajeto. Na falta dos toureadores, o gado ficava para trás. Sorte de quem o achava.           
É aí que surgiu as toureadas onde passou a ser uma tradição e divertimento para toda a comunidade e região. Vamos falar de Oranides Ângelo Lucas, conhecido como sendo o “chulé” ou “diamante”. Nasceu no dia dois de fevereiro do ano de 1940, na cidade de Tanabi. É brasileiro descendente de paulistas; é católico. Aos nove anos de idade abandonou os estudos e se apaixonou pela inclinação do laço. Tendo um pai extremamente rigoroso, muito apanhou por ter escolhido lidar com o gado. “Eu apanhava cedo, tarde e a noite. Tudo era motivo para apanhar e quanto mais o meu pai me batia, mais eu me apaixonava pela tralha e pelos animais.”
            Aos nove anos e sem á devida ordem do seu pai foi fazer a sua primeira viagem, levar gado para a cidade de Aparecida do Taboado montado num lombo de mula. Quando voltou, apanhou muito.
            Com vivência no meio dos tropeiros, foi aprendendo de tudo um pouco: domador de gado, matar o animal para o consumo, apartar, tratar; ter domínio total do animal.  
            Na década de cinquenta passou a ser toureiro no “Circo de Touros” de propriedade de Cassiano Ribeiro. Magníficas toureadas foram realizadas neste mundo a fora. Depois foi trabalhar com José Ribeiro, “foguete” (palhaço) e José Simão que montaram um circo de toureadas e montarias. As toureadas eram realizadas onde hoje é a escola Pe. Fidélis, lá, era armado o circo. 
            Grandes touradas foram feitas no T.C.C, escola Ganot e Pe. Fidélis. Oranides viajou vinte estados de nossa federação, toureou infinitamente. Com sua capa vermelha e belo chapéu na cabeça, desafiou bois de vinte e cinco a 36 arrobas e chifres pontiagudos e extremamente “afiados”. Nunca foi vencido. Recebeu inúmeros troféus por isso. Muito contribuiu para a construção do atual recinto municipal através de duas touradas. Atualmente reside na Rua Marechal Deodoro, número 47, centro de Tanabi. Na pessoa da saudosa Ester Muniz Cordeiro (meretriz e toureira), saudemos – Antônio Benedito Geraldo (mexirica), Nassib Bechir, “Faixa Branca”, “Passo Preto”, “Foguete”. Olé! Olé! Olé! De uma Tanabi que ficou na saudade.
                                                                                                          Tanabi, setembro de 2013
                                                                                                                    Terso M. Mazza






























13 comentários:

  1. Passei minha infância, adolescência e juventude em Tanabi, e aos 23 anos vim para Cuiabá a procura de novos horizontes, onde me enraizei vivo até hoje, e conheci todos citados nesse documentário, muito bom recordar...

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  2. PARABÉNS!!!!PARABÉNS!!!!PARABÉNS!!!! OBRIGADO PELO BELO PASSEIO COM PESSOAS QUERIDAS DA MINHA CIDADE.

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  3. muito legal o Blog, um prato cheio (e delicioso) para quem gosta de historia.

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  4. sobrinha de Encarnação Carreon Favaron, neta de Felipe Carreon Difuentes e Antonia Fernandes Sanches Carreon , muito obrigadooooooooooooo

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  5. Passei minha infância e adolecência em Tanabi e conheci várias pessoas que fizeram parte dessa história.Sou irmã do Dioguinho da sanfona ou o Taxista como queira e irmã da Mara Martins Pretel(locutora)da rádio club.Mas sempre retorno à Tanabi pois pra mim é onde consigo esquecer do mundo e recarrego o meu emocional pra enfrentar todos os problemas diários com mais força.Amo Tanabi.

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  6. Morei em Tanabi quando suas ruas eram de pedregulhos tenho muitas saudades à onde estão os filmes antigos da época dos comícios obg

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  7. Família de José constancio ainda mora em tanabi..

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  8. Nasci em 1950 em Tanabi. meu pai foi Guido fiscal de caça e pesca. minhga mae foi a Zina Junqueira, meu avô Chico Junqueira e meu tio mano da mãe, O saudosdo Bicicleta, ex goleiro e figura folclórica de tanabi. Mudei de Tanabi com 8 anos para Rio Preto, E aos 18 entrei na Marinha e fixei residencia, no Rio de Janeiro onde estou até hoje mas todo ano vou a Tanabi ver os parentes. Tambem conheci a Bélica doceira onde comia muito doce de leite, e conheci seu filho o famoso Pé de Chumbo,dono do maior chute de bola até então,E que arrancou o saco de um adversário com um chute, O qual lhe rendeu o apelido e uns tempos na prisao.Conheci o Cuiabano, GRANDE tenor dos cantores de ébano.

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  9. Ameiii sou neto do Sr. Maximiliano Menegasso ❤️

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  10. Minha querida e propalada Tanabi, nasci em 02/02/1945 na minha querida Tanabi vim para São Paulo em 1954 meu pai José Ribeiro dos Santos,o Zezão ficou aí em Tanabi, eu morava na casa da dona Olivia do seu Nogueira pai da Olivia que era guardiã da chave da capela do cemitério, meu padrinho era o Carmeno Frederico e Iracema Gonçalves, fui batizado pelo padre Horácio Lembro...

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  11. Nasci na Fazenda Cachoeira dos Felícios, cidade de Tanabi em 17 de Agosto de 1965, no entanto, não cresci nessa cidade. Amei esse conteúdo histórico, me proporcionou um prazer imenso em conhecer um pouco da minha cidade natal. Parabéns pela iniciativa e dedicação, muito obrigado, fico extremamente agradecida! 🙏👏

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  12. A onde se encontra os filmes antigos de Tanabi q lugar qual família tem

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  13. Gostaria,de conhecer a historia de Sarkis Chain. É possivel?

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